Museum of the world (Extract), “entre autre chose“, tríptico 1/3, Collège des Bernardins, Paris | 2014 |
Djamel kokene-Dorléans (cortesia do artista)

2022-01-08 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #147

FIM | PT

No contexto da investigação em Ciências Sociais e em Artes o termo memória deve ser acolhido como uma analogia ou uma metáfora cuja origem se refere às múltiplas capacidades neurológicas do cérebro e às complexas e infinitas funções e operações que em nada podem comparar-se ao uso corrente da palavra memória. O não esclarecimento desta diferença substancial leva-nos a incorrer numa concepção pobre e redutora dos conceitos de memória e de pós-memória e até à caricatura dos mesmos.

sem título | 2018 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2021-12-25 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #146

Em tempo de balanço | PT

A primeira newsletter do projecto MEMOIRS tem a data de 5 de maio de 2018. Nela, Margarida Calafate Ribeiro escrevia sobre os fantasmas pós-coloniais à solta na Europa e eu próprio ilustrava este tema abordando os conflitos de memória e de pós-memória presentes na controvérsia em torno da mudança de nomes de rua no chamado "Bairro Africano" de Berlim. No meu breve texto, salientava-se que a alteração iminente da toponímia berlinense, com a retirada de nomes ligados ao passado colonial alemão, era o resultado de vários anos de pressão por parte de organizações agrupadas na iniciativa "Berlim Pós-Colonial", protagonizada em boa medida por cidadãos alemães de ascendência africana.

Mitologias, de António Olé | Marginal de Luanda | 2014 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2021-12-11 | Santos, Hélia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #145

Não havia olhos inocentes | PT

Neste breve texto, esboço uma hipótese que discuto no meu trabalho de investigação no âmbito do projeto MEMOIRS: se a narrativa da pós-memória, elaborada a partir de restos de memórias familiares, omite ou ignora as identidades raciais no tabuleiro político do colonialismo, a dimensão de género, por seu turno, desaparece ou é esboçada numa colagem sépia.

Mitologias, de António Olé | Marginal de Luanda | 2014 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2021-11-13 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #144

Piscinas Fantasmas: Memória, Fim | PT

De certo modo já é sempre tarde demais para falar do fim. Quando o fazemos, na maior parte dos casos, o fim já chegou, já se esgotou, e deu lugar a algo que pode aparentar ser algo novo, mas que afinal é bem arcaico. Como evitar iludirmo-nos com a crença de que o arcaico na realidade é aquilo que poderíamos imaginar como o futuro? Provavelmente só sendo contemporâneo, num sentido Agambiano, se pode verdadeiramente ver o fim antes do seu desaparecimento.

© Mauro Pinto, Sem título da série C’est pas facile [cortesia do artista]

2021-10-30 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #143

EUROPA, je t´aime moi non plus | PT

Nas discussões contemporâneas em torno da Europa pós-colonial, os conceitos de memória e pós-memória assumiram uma importância crescente, dando destaque a um aspeto de grande relevância política: a questão colonial não terminou com aqueles que a levaram a cabo ou que a sofreram. Passou para as gerações seguintes através das figuras do ex-colonizador e do ex-colonizado. Estas “personagens” reencenam uma complexa fantasmagoria profundamente relacionada com o espectro mais íntimo do subconsciente europeu: o seu fantasma colonial que se manifesta inter alia sob a forma de “transferências de memória” colonial - como racismo, segregação, exclusão, subalternidade – ou sob a forma de “erupções de memória”, e assim questiona a essência das sociedades multiculturais europeias, desenhadas pelas heranças coloniais e alimentadas por vagas migratórias.

Dada (escultura, molde de mãos, em gesso, e cinto velho em couro, dimensões variáveis)
Sabrina Belouaar | 2018 © ADAGP, Paris (cortesia de Mohamed Bourouissa)

2021-10-16 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #142

A exposição Europa Oxalá | PT

Esta não é uma exposição de arte africana. É uma exposição de obras de arte produzidas maioritariamente na Europa por artistas vivendo e criando em cidades europeias, artistas que consideram as memórias familiares, originadas em contextos coloniais ou pós-coloniais africanos, como um capital fundamental da sua produção artística que emerge na Europa no princípio deste século. A exposição Europa Oxalá é também o momento ideal para desconstruir o mito colonial e a melancolia pós-colonial designados como "arte africana".

Rita e família (cortesia da entrevistada)

2021-10-02 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #141

Rita Joana Maia | PT

Nasci em Coimbra em 1980. Quando eu tinha quatro, cinco anos, passava muito tempo com deficientes de guerra, por causa da profissão do meu pai que trabalhava na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). Eu ouvia o que falavam entre eles. Estavam tão habituados à minha presença que tudo lhes saia com muita naturalidade. Recordo-me de uma situação caricata em que estava eu, o Zé Arruda e o Lucas no elevador. Eu tinha uns seis, sete anos e o elevador parou. O Zé Arruda disse "isto é que é uma sorte Joaninha, até a merda do elevador é deficiente".

Eugénia Mussa | Solo carrier | 2019 (cortesia da artista)

2021-09-17 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #140

Reconstruir, verbo não só transitivo | PT

Vivemos um tempo em que reconstruir parece ter-se tornado a preocupação central de todos, como acontece de modo geral num pós-guerra. A pandemia faz proliferar planos e ideias de reconstrução, recovery plans, programas de retoma, de reconstrução, de recomeço, de recuperação. É uma reação típica a determinados tempos do fim, quando se viveu uma espécie de fim dos tempos, uma experiência catastrófica ou final que profunda e destrutivamente se abateu sobre um determinado tempo, deixando a posteriori uma intenção antes de um gesto de superação do fim ou de reinício, o virar da página.

Paulo Faria | A caminho da ordenha das vacas, às seis da madrugada | Landes (França), Agosto de 2020 (cortesia do autor)

2021-09-04 | Faria, Paulo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #139

Uma terrina lascada | PT

A terrina estava no alto do armário da sala, onde conversámos naquela tarde, mas só reparei nela quando Amande ma apontou e me explicou a origem daquela peça, já eu me levantara para partir. Uma terrina antiga, grande, elegante, cor de leite com café, leite e café misturados em partes iguais, semeada de flores. Uma asa lascada. Parecia uma canoa maltratada pelas intempéries.

Romuald Hazoumé | La bouche du roi (1997-2005) | (Col. Museu Britânico, cortesia do Rijksmuseum)

2021-08-14 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #138

O Fogo do Purgatório | PT

Planeada em 2017, a exposição sobre "Escravatura" (Slavernij) devia ter aberto em Fevereiro de 2021, mas foi adiada devido à pandemia, sendo inaugurada pelo Rei Willem-Alexander a 18 de Maio, embora limitada praticamente a ser virtual, com exceção feita para grupos escolares, até finalmente abrir as portas ao público em geral no dia 1 de Junho. Da longa lista de expectativas que se foi acumulando pode-se destacar a de uma abordagem séria de um assunto a que muitos se esquivam: o papel fundacional da escravatura com toda a sua crueldade e desumanidade na constituição do âmago da modernidade europeia em geral, e, neste caso particular, do Reino dos Países Baixos.

Sannad Sharef Amin | 2020 (técnica mista sobre madeira/ cortesia do artista e da Downtown Gallery)

2021-07-31 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #137

Eppur si muove ? | PT

Foi notícia no passado dia 28 de Maio que o governo alemão, através de uma declaração do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, reconheceu oficialmente a repressão violenta da revolta dos povos Herero e Nama, no início do século XX, na antiga África Ocidental Alemã, atual Namíbia, como um crime de genocídio. O presidente da República Federal Alemã dispõe-se a visitar a Namíbia e aí apresentar um pedido formal de perdão. Não é uma notícia de somenos. Há muito que os factos em referência são reconhecidos pelos historiadores como o primeiro genocídio do século XX.

Montagem Vertical | Eugénia Musse | 2020 (cortesia da artista)

2021-07-17 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #136

A afasia colonial e as encruzilhadas da memória | PT

Causou alguma surpresa o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa nas comemorações oficiais do 25 de Abril. Não era previsível que a intervenção do Presidente da República se centrasse exclusivamente numa análise da história e da memória do passado colonial, não obstante as polémicas surgidas, meses antes, em torno do jardim da lisboeta Praça do Império ou dos encómios oficiais ao falecido comando africano Marcelino da Mata. Mais do que uma resposta a essas controvérsias do momento, o discurso de Marcelo parecia querer incitar a um necessário debate.

acrílico sobre tela | Amna Mahmoud | 2020 (cortesia da artista)

2021-07-03 | Mota SJ, Francisco

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #135

MEMOIRS na Brotéria | PT

Entre os dias 5 e 10 de Julho, o projeto Memoirs promove - em parceria com a Brotéria - um curso que quer criar ferramentas para que quem participa nele possa analisar e pensar criticamente a questão pós-colonial em Portugal, na Europa e no mundo. Para isso, partir-se-á de um conjunto de tópicos que tem vindo a preencher e questionar a atualidade do século XXI e as suas relações com o social, o político, o tempo e o espaço.

Imagem do vi´deo "Ciclo Perpe´tuo" | 2021 Ce´sar Schofield Cardoso (cortesia do artista)

2021-06-19 | Lovegrove, Sofia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #134

"Ciclo Perpétuo": memórias (re)aparecidas e práticas decoloniais no Tarrafal, Cabo Verde | PT

A prisão do Tarrafal em Cabo Verde foi criada em 1936 pela ditadura do Estado Novo para presos políticos portugueses. Fechou em 1954 e reabriu em 1961 para encarcerar os ativistas ligados aos movimentos anticoloniais nas ex-colónias portuguesas em África. Uma terceira e menos conhecida função da prisão ocorreu entre 1974 e 1975. A Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974, que marcou o fim do regime fascista e colonial português, desencadeou uma disputa entre o PAIGC (Partido Africano da Independência de Guiné Bissau e Cabo Verde) e os partidos opositores locais com vista ao controlo de Cabo Verde, levando o PAIGC a reabrir o Tarrafal em Dezembro de 1974 para encarcerar alguns dos seus opositores. A maioria seria libertada até Maio de 1975 e em Julho a prisão fechou definitivamente.

Justina Maria do Espírito Santo | 2021 | Michel Cena7 (cortesia do artista)

2021-06-05 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #133

Exu, orixá da memória negra | PT

O filme-manifesto "AmarElo - É Tudo Pra Ontem (1)" (2020) de Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como rapper Emicida começa e termina com o ditado iorubá sobre Exu, um orixá capaz de matar um pássaro ontem com uma pedra arremessada hoje. Exu é conhecido como elemento transicional, o último orixá e o primeiro humano, aquele que possibilita a comunicação entre o céu e a terra. No imaginário cristão brasileiro, Exu é interpretado como sendo o demônio. Entretanto, na narrativa alternativa à história oficial do Brasil, Exu reinventa a memória ao reescrever a história do Brasil pela perspectiva dos negros. No filme são denunciados os danos da escravidão e da abolição sem indenização, assim como a política de branqueamento, responsáveis por perpetuar um abismo racial na população brasileira.

Posto avançado do progresso | 2014 | Hugo Vieira da Silva (cortesia do realizador)

2021-05-29 | Ribeiro, António Pinto e Margarida Calafate Ribeiro

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #132

Fantasmas do Império | PT

Os impérios são sempre ficções, para quem os administra, a partir das metrópoles, para quem os sonha, a partir de vidas falidas, para quem, estando do outro lado, respira quotidianamente a opressão e imagina uma metrópole distante, mas omnipresente, e poderosa. São imagens que dão aparente realidade a esta ficção. Construídas pela literatura, pelo cinema, pela fotografia, pelos museus, pelas exposições, pela arte e pelas histórias populares estas imagens alimentam um arquivo, que contribui para a criação das fantasias imperiais que hoje nos abordam sob a forma de fantasmas.

Ex-Cravo | 2020 | José Luandino Vieira (cortesia do escritor)

2021-05-22 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #131

O jardim da praça do império e os fiéis jardineiros do colonialismo | PT

Corriam os primeiros meses de 2021, ano em que a exploração espacial entrava numa nova fase com a aterragem do Perseverance em Marte, quando o Jardim da Praça do Império em Lisboa compareceu no debate público à boleia de animada controvérsia. Tendo em conta o tumulto que o ano de 2020 trouxe ao mobiliário urbano de gosto colonial-revivalista, para evidente maçada das pombas já habituadas às estátuas de Robert E. Lee, Cecil Rhodes, Cristovão Colombo ou de Edward Colston, esperaríamos talvez um surto de revisitação crítica à vasta decoração monumental que sobejou da Exposição do Mundo Português de 1940.

Banda Maravilha | Espaço Cultural Chá de Caxinde | Luanda | 2019 | cortesia do autor

2021-05-08 | Soares, André Castro

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #130

Num semba poema, num semba canção, num semba ação Escuta das comunidades de práticas do semba enquanto património imaterial | PT

Angola entrou para a lista do Património Mundial da Humanidade em 2017, com a inscrição de Mbanza Congo, na Lista do Património Mundial da UNESCO como paisagem cultural pré-colonial. Esse momento marca a entrada de Angola na corrida patrimonial gerida de forma supranacional pela UNESCO. Em 2018, a Ministra da Cultura de Angola avançou com a vontade de começar o processo de patrimonialização do semba com ecos na imprensa angolana e para satisfação dos músicos e sembistas.

The Problem | Bill T. Jones, Janet Wong | 2020 | Holland Festival | cortesia dos artistas

2021-04-24 | Ribeiro, António Pinto 

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #129

Qual é o Problema | PT

Bill T. Jones (1952) é um bailarino e coreógrafo negro norte-americano que, em 1982, fundou com o seu companheiro Arnie Zane (1948-1988), artista, branco, a Bill T. Jones/Arnie Zane Dance Company. Presente na Europa nos circuitos dos festivais e teatros, a Companhia tornou-se particularmente conhecida com a apresentação da obra Still/Here (1994) que, na época, chegou dos EUA envolta numa polémica promovida pelos media sensacionalistas que acusavam o coreógrafo de oportunismo porque a obra em causa resultava de um trabalho de pesquisa sobre doentes que padeciam de doenças terminais como a sida, a leucemia e o cancro.

acrílico sobre papel | Almogera Abdulbagi | 2020 | cortesia do artista e da Galeria Downtown Gallery

2021-04-10 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #128

Incêndios e vítimas: uma primeira abordagem à pós-memória no pós-conflito colombiano | PT

Num recente texto de opinião, publicado em Outubro de 2020, Ricardo Silva Romero (Bogotá, 1975), um dos mais importantes escritores e colunistas da imprensa da Colômbia hoje, refletia sobre o lugar da sua geração na - infelizmente duradoura - história da violência colombiana.

2021-03-27 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #127

A memória ensina ou ensina-se a memória? | PT

A relação entre a memória e a educação é, no mínimo, exigente. Educar significa, sobretudo, sensibilizar sobre como aprender do passado e pensar assim na sua atualização, também através de disciplinas específicas, como por exemplo a História. Mas será suficiente esta consideração tão imediata, que assume uma óbvia contiguidade entre o que herdamos do passado e o que transmitimos como conhecimento? A resposta é complexa.

foto do autor | Muaua | 2019 | cortesia do autor

2021-03-13 | Faria, Paulo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #126

Esta guerra não é tua (3) | PT

Antes de sair abruptamente da sala, Adriano atira-me: - Eu sou um gajo que, se ouvir uma torneira a pingar, não durmo enquanto não consertar a torneira. Sabe porquê? Porque passei muita sede no mato, na Guiné. Se eu vir que alguém deixou uma luz acesa, volto atrás para a apagar. Sabe porquê? Porque passei muitas privações na guerra. Eis a guerra de Adriano: uma torneira a gotejar-lhe na fronte até cada pingo parecer uma martelada, uma lâmpada crepitante, com o filamento prestes a queimar, que lhe atira aos olhos uma luz em sangue. Coisas que não o deixam dormir.

Mercado | Eugénia Mussa | 2020 | cortesia da artista

2021-02-27 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #125

O inconsciente colonial | PT

É um lugar-comum dizer-se que a produção de memória arrasta consigo, inevitável e concomitantemente, a produção de esquecimento. Há muitas formas de esquecimento, a mais insidiosa das quais é, sem dúvida, a rasura da memória, a reescrita do passado como parte de uma estratégia deliberada de intervenção no presente. A forma mais extrema dessa rasura é o negacionismo ou o revisionismo, por exemplo, a negação do Holocausto, que, por bons motivos, a legislação de vários países remete para a esfera criminal. Há, no entanto, outras formas de esquecimento, muito mais inocentes, mas cujas consequências são, por igual, profundamente negativas, uma vez que nos privam de instrumentos de justiça e moldam o nosso presente de forma empobrecedora e excludente. Uma dessas formas, de manifesta actualidade no actual debate público português, é determinada por aquilo a que chamo o inconsciente colonial.

Small Axe (antologia), Steve Mc Queen | 2020

2021-02-13 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #124

Reforçar os alicerces: contra o apagamento da memória | PT

Em 2014, Paul Gilroy proferiu as Tanner Lectures na Universidade de Yale. Na primeira intervenção, refletindo sobre a função dos estudos humanísticos, Gilroy assumiu um tom realista ao refletir sobre o contraste entre a importância, e a relativa escassez, dos estudos dedicados a compreender o modo como o racismo é fundamental na estruturação da nossa sociedade e como nos afeta a todos e afeta o nosso conceito de Humanidade.

Lisette Lombé, in Black Words, Bruxelas, Arbre | 2018 | cortesia da artista

2021-01-30 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #123a

Patrice Lumumba, 60 anos depois | PT

No dia 17 de janeiro de 2021, assinalaram-se 60 anos sobre o assassínio de Patrice Lumumba, o primeiro primeiro-ministro do Congo independente (República Democrática do Congo) e um dos grandes líderes africanos dos anos 1960. A relevância histórica deste assassínio comporta fatores locais, regionais e globais que vão de rivalidades e cumplicidades internas à importância do Congo como realidade e imagem em África; do contexto dos países africanos em luta pela independência às disputas de poder entre as potências colonizadoras; passando pelas relações entre uns e outros no contexto da Guerra Fria, cujas consequências se fazem sentir até hoje. Na verdade, tratou-se de um assassínio que ficou anunciado no dia da independência, a partir de um discurso.

capa do livro | 2020 | cortesia do autor

2021-01-30 | Rodrigues, Inês Nascimento

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #123b

A história e protagonistas da música Afro-Portuguesa | PT

Não dá para ficar parado. Música afro-portuguesa. Celebração, conflito e esperança, de Vítor Belanciano, é o quinto e mais recente título da coleção "Memoirs - Filhos do Império", que tem vindo a ser publicada nas Edições Afrontamento. Contando a história de um conjunto diverso de artistas, desde General D, Chullage e Djamal, a Buraka Som Sistema, Sara Tavares, Allen Halloween, Mindy Guevara, Throes + The Shine, Batida ou Scúru Fitchádu, Dino d'Santiago e os DJs da Príncipe Discos, o jornalista e crítico do jornal Público desenha uma outra cartografia da música portuguesa contemporânea, em que o prefixo "afro" adquire centralidade.

Eduardo Lourenço | 2014 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2021-01-16 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #122a

A última lição de Eduardo Lourenço | PT

Nos dias que se seguiram ao falecimento de Eduardo Lourenço, emergiu com nitidez, apesar do considerável esforço comemorativo, a impossibilidade de abarcar uma obra que parece escapar por todos os lados. A questão de saber o que esta obra é e, em particular, de como definir o estatuto ex-cêntrico de um estudioso como Eduardo Lourenço, ficou evidente em muitos momentos: definições marcadas por uma profunda insuficiência afloraram nos atos públicos e nos meios de comunicação.

Mariamo Miguel | 2019 | Paulo Faria (cortesia do autor)

2021-01-16 | Faria, Paulo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #122b

Esta guerra não é tua (2) | PT

Na primeira conversa que aqui tivemos, há um mês, neste mesmo cubículo do centro comercial da Costa da Caparica, Maurício (Guiné, 1972-1974), engenheiro na vida civil, não me falou da cadeira eléctrica de Bula. Contou-me outras histórias da guerra, muitas histórias. Sentados à volta da mesa estavam ele, o Marco Mané e outros veteranos. Nesse encontro procurei o mesmo que aqui me traz hoje: histórias exemplares.

S/título (técnica mista, madeira, silicone, metal) | 2019 | John K. Cobra (cortesia do artista)

2020-12-26 | Ribeiro, António Pinto 

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #121

Obras de arte na condição da pós-memória (conclusão) | PT

O explorador Henri Morton Stanley, na sua obra In Darkest Africa (1890), relata um encontro com o rei Roumanika que, no seu palácio, o fez visitar uma das salas. Na verdade era um museu, e a sua descrição revela um acervo importante de objectos provenientes de várias regiões da sua nação, organizado de forma muito metódica.

Operário | 2019 | Paulo Faria (cortesia do autor)

2020-12-12 | Faria, Paulo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #120

Esta guerra não é tua (1) | PT

O desconhecido entra na sala onde eu já me encontro sentado à mesa, um cubículo triangular sem janelas num centro comercial da Costa da Caparica. Aqui se vão reunir vários veteranos da guerra do Ultramar, amigos de um veterano meu conhecido, que hoje faz o papel de anfitrião. Chama-se Marco Mané, é o gerente deste centro comercial, antigo comando africano da Guiné-Bissau. É assim que venho fazendo há vários anos. Falo com um veterano, que por sua vez conhece outros, que por sua vez conhecem outros. Procuro novas histórias de guerra, novos pormenores, procuro vozes que se juntem ao coro que tenho na cabeça, para compor uma sinfonia coral, a sinfonia coral da nossa guerra africana.

O escritor húngaro, Imre Kertész, prémio Nobel da literatura, com a chanceler alemã Angela Merkel | 2007 | Axel Schmidt/DDP/AFP via Getty Images

2020-11-28 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #119

A quem pertence...? | PT

Um dos ensaios mais marcantes de Imre Kertész tem por título a simples interrogação "A quem pertence Auschwitz?". Apesar de bastante breve, trata-se de um ensaio que enfrenta exemplarmente a questão da persistência da memória e do papel de gerações posteriores na preservação da memória.

Encontro dos Comandos | 29 junho de 2008 | fotografia da autora

2020-11-14 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #118

Amadú Bailo Djaló, antigo combatente africano das Forças Armadas Portuguesas: uma homenagem | PT

Amadú Bailo Djaló é, até à data, o único antigo combatente africano das Forças Armadas Portuguesas (FAP) que publicou um livro sobre a sua experiência na Guerra Colonial portuguesa. Amadú tinha 70 anos quando o seu livro Guineense, Comando Português (1964-1974) foi publicado pela Associação de Comandos, em 2010. Este livro foi escrito a partir de um dos seus diários. Tinha, pelo menos, mais dois que desejava poder publicar um dia.

Ilustração de Mundus subterraneus | 1665 | Athanasius Kircher (Wikimedia Commons)

2020-10-31 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #117

O Gigante Aparente: da reescrita do racismo às obras de arte da pós-memória | PT

Uma das figuras da literatura infantil que mais fascínio me tem produzido é a do Gigante Aparente. O senhor Tur Tur - é esse o seu nome - é uma personagem criada pelo escritor alemão Michael Ende (o célebre autor de bestsellers infantojuvenis como A História Interminável e Momo) que aparece pela primeira vez no seu livro Jim Botão e Lucas o Maquinista, publicado em 1960. Há vários anos, quando li a história de Jim Botão à minha filha, que escutava entre espantada e curiosa o relato de Ende, o Gigante Aparente foi uma das figuras que mais lhe suscitou interrogações.

14 de Março | 2019 | Foto do arquivo pessoal de Paulo de Medeiros

2020-10-17 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #116

Com a Boca Cheia de Sangue: Da responsabilidade dos intelectuais (3) | PT

Quando Misan Harriman publicou a sua fotografia de uma jovem, Darcy Bourne, empunhando um cartaz durante uma das marchas de protesto do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) em Londres, em Junho de 2020, talvez não tenha imaginado o impacto que essa imagem iria ter. Deixando de lado os atributos visuais específicos da imagem, apelativos quer do ponto de vista político, quer mesmo ao nível estético, a mensagem daquele cartaz interpela diretamente um dos assuntos mais espinhosos em relação à luta contra o racismo.

Grafitti | Escola Eça de Queiroz, Lisboa | Fotografia anónima

2020-10-03 | Martins, Bruno Sena 

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #115

Quem define as memórias que cabem na Europa? | PT

Uma reflexão sobre o lugar das ancestralidades, das memórias e das identidades nas políticas contemporâneas parece tornar-se imperiosa quando assistimos ao modo hábil como a extrema-direita vem alavancando o seu crescimento na fácil caricatura das políticas identitárias, tidas como ameaçadoras de vetustos costumes, apologistas do politicamente correcto ou avessas à liberdade de expressão. Este crescimento da extrema-direita tem parasitado o modo como a acumulação neoliberal cria, em significativas parcelas da população, um cenário de expectativas socioeconómicas minguantes. Um tal quadro favorece populismos de direita que se declaram anti-sistema ao mesmo tempo que mantêm o extrativismo capitalista a salvo.

Foto dos carimbos que formam parte da obra Rédemption | 2012/2014 | Barthélémy Toguo

2020-09-19 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #114

A resiliência da resistência | PT

Os campos de tensão social não desapareceram durante o período de confinamento na pandemia do coronavírus de 2020. Embora o espaço público estivesse de alguma maneira condenado aos encontros e mobilizações, atos de racismo e violência policial ativaram as manifestações do Black Lives Matter, ultrapassando as fronteiras norte-americanas com demonstrações de solidariedade em diversos países como França, Brasil e Portugal, onde ocorre sistematicamente o mesmo tipo de crimes contra a população não-branca.

Tchandisila (Herança): Melgaço| 2019-10 | Yara Monteiro (cortesia da artista) | fotografias originais de arquivo familiar (anos 60), com colagem digital

2020-09-05 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #113

As culpas da História | PT

Por ocasião dos 60 anos da independência do Congo, em 30 de Junho passado, numa carta ao presidente congolês, Félix Tshisekedi, o rei Philippe da Bélgica apresentou oficialmente, pela primeira vez, desculpas ("les plus profonds regrets") pelas "feridas coloniais" que a Bélgica provocou à sua antiga colónia africana. A manifestação do soberano inscreve-se no movimento de revisão (complexo, tumultuoso, mais reativo do que reflexivo) do passado de injustiças que se manifestou através de multíplices atos iconoclastas em relação aos monumentos que são símbolo de violações históricas de direitos, hoje, consagrados.

Arne Kaiser | 2020 (cortesia do artista)

2020-08-08 | Kaiser, Arne

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #112

Num mundo sem desigualdades as portas existem para se abrir | PT

Transportamos em nós várias vivências. Muitas estão fechadas a sete chaves e são apenas memórias, como uma natureza morta. Outras ganham vida, perspectiva, e pelo exercício da criatividade, abrem-se portas... e um infinito de possibilidades começa a pulsar. Obstáculos existem, ouvimos falar deles... na cabeça de algumas pessoas.

La ramasseuse des mains coupés | 2014 | Aimé Mpane Enkobo (cortesia do artista)

2020-07-25 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #111

Obras de arte na condição da pós-memória: alguns atributos (2) | PT

No primeiro artigo desta série "Obras de arte na condição da pós-memória" referíamo-nos, entre outros aspectos, ao facto de as obras de vários artistas afro-descendentes das segunda e terceira gerações, vivendo na Europa, terem um lugar de destaque na arte contemporânea europeia, não só pela sua qualidade artística, mas também por um conjunto de características de natureza formal, temática e estética, que lhes dão uma identidade muito própria dentro da cena contemporânea.

Capa de livro, imagem: sem título | 2018 | Nu Barreto (cortesia do artista)

2020-07-18 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #110

Heranças africanas em língua portuguesa: «Sempre habitámos um espaço maior que nós» | PT

Num ensaio lucidamente intitulado "Da ficção do império ao império da ficção", publicado em 1984, Eduardo Lourenço escreve a propósito da descolonização portuguesa: Temos de nos habituar a pensar que sempre habitámos um espaço maior que nós e por isso mesmo sem sujeito. É a parte de verdade da nossa imperial ficção. Contentemo-nos hoje com a ficção dessa verdade. E adaptemo-nos em casa e fora dela a essa ficção. (Lourenço, p. 269) No referido ensaio, Eduardo Lourenço defende a ideia segundo a qual, na percepção sobre a descolonização durante os anos 1980 em Portugal, mantinha-se a atitude de "desdramatização" quanto ao facto colonial, a coberto da ideia imperialista do regime salazarista de uma "colonização diferente".

1959 | Luanda, tia Loló e sobrinhas (foto do arquivo pessoal da Verónica de Fátima)

2020-07-11 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #109

Olha, eu não sou branca | PT

A entrevista que se segue, de Verónica de Fátima, foi realizada no dia 28 de março de 2018 por Margarida Calafate Ribeiro. A minha história é diferente. Normalmente, as pessoas quando olham para mim dizem "mais uma filha de um retornado" e eu explico: "não, não é bem isso". Nasci a 12 de março de 1959, em Luanda, Angola e cheguei a Lisboa em 1975. O meu pai é português, foi para Angola de castigo porque não quis tirar o curso superior. A sua família abrasonada e de posses, do norte de Portugal, enviou-o para África trabalhar.

Achille Mbembe | 2015 | Heike Huslage-Koch/CC BY-SA (wikimedia commons)

2020-07-04 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #108

Pós-colonialismo e pós-Holocausto: o "caso" Mbembe | PT

O universo mediático alemão tem sido agitado nos últimos meses por uma controvérsia que parece não ter encontrado grande repercussão fora da Alemanha, mas merece atenção pelo seu carácter sintomático. A história conta-se em poucas palavras. De origem camaronesa, professor da Universidade de Witwatersrand, Achille Mbembe é autor de obras bem conhecidas e extremamente influentes no âmbito da mais recente reflexão pós-colonial, como Crítica da Razão Negra ou Políticas da Inimizade.

Olosapo, vyakuka, nd´uwala wafundala, echi wavita vyalinga vyokaliye. (Umbundu) Histórias velhas, como roupas enxovalhada ao contá-las tornam-se novas.

2020-06-27 | Monteiro, Yara

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #107

Papéis velhos | PT

O meu avô materno faleceu em casa, rodeado pela família e olhando o grande mapa de Angola pendurado na parede em frente à sua cama. Vivia em Portugal há quase vinte anos, porém não havia abandonado o país onde nascera. Na realidade, nenhum de nós. Não que alguma vez a família tenha considerado um retorno, simplesmente era-nos possível estar em dois lados ao mesmo tempo, acontecendo que se acabava por estar em parte alguma.

Peles Vermelhas, em "Sentidos da Imagem" | 2019 | Rui Almeida Pereira (cortesia do artista)

2020-06-20 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #106

Vendavais (3) | PT

Repentinamente, por todo o lado, parece que só se fala de estátuas. Há até quem mencione uma "guerra das estátuas". Mas nada poderia estar mais distante da verdade. As estátuas, apesar de toda a sua carga simbólica, não são o alvo dos protestos, do mesmo modo que as defesas imediatamente erigidas para "proteger" as estátuas e a História, nada têm a ver, nem com as estátuas nem com a História, mas sim com a salvaguarda de privilégios acumulados ao longo de séculos e a manutenção do âmago inumano que serve de fundação às nossas sociedades.

Natureza artificial | 2019 | Ana Mendes (cortesia da artista)

2020-06-13 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #105

Histórias de longe: o racismo e o festim da serpente | PT

A crescente notoriedade de ativismos anticoloniais e antirracistas veio para desassossegar a placidez da nostalgia colonial ainda reinante nas ex-metrópoles europeias. Em estreita ligação com as contravagas que marcaram o fim dos ciclos imperiais, a presença de populações negras e afrodescendentes na Europa tem sido marcada por uma complexa reconfiguração das práticas de resistência nas últimas décadas. Em traços largos, poderíamos dizer assistimos à passagem de testemunho entre, por um lado, gerações que na busca por uma vida melhor enfrentaram a adversidades várias (racismo, xenofobia, precariedade económica) mormente através de lógicas de "resistência quotidiana" e, por outro, a sua descendência - simbólica e/ou familiar.

sem título | 2019 | Avelina Crespo (cortesia da artista)

2020-06-06 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #104

Contra o complexo de Babar. Pós-memória, periferia e literatura | PT

A discrição foi o que levou parte de uma geração a resistir dentro da França pós-colonial, como ilustra o romance La discrétion de Faïza Guène, com lançamento previsto para agosto de 2020. Nesta obra, Yamina, a personagem principal, é um arquétipo das mulheres que migraram para França e souberam transmitir aos filhos, pelo silêncio, uma memória de vivências na colônia e os percalços da imigração. Os livros de Faïza Guène, escritora francesa de ascendência argelina, ampliam as perspectivas sociais que não foram ainda numérica e simbolicamente representadas, a saber dos imigrantes das antigas colónias francesas.

Tchandisila (Herança): Melgaço| 2019-10 | Yara Monteiro (cortesia da artista) | fotografias originais de arquivo familiar (anos 60), com colagem digital

2020-05-30 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #103

As impotências da pós-memória | PT

Mais do que um signo de união sobre a responsabilidade da transmissão da memória, a pós-memória é separador de águas. Menosprezada pelas ciências sociais, subestimada pelos historiadores, endeusada nos estudos culturais e nas artes, o tema da memória das gerações seguintes às gerações testemunhais é um território controverso, por vezes conflituoso, de qualquer modo estranho. As causas são multíplices, e é quase escusado enumerar todos os limites apontados: ter sido elaborada no campo dos estudos literários e culturais como um defeito de teoria e de reflexão crítica, assumir a relação complexa que se criara, na década de 1990, nos Estados Unidos, sobre a elaboração da memória da Shoah, a problemática distinção entre próprio e impróprio, uma popularidade no âmbito de algumas vertentes de estudos que a tornaram um fetiche acrítico, como ocorre sempre com as modas culturais.

Flor para Alda | 2020 | Yara Monteiro (cortesia da artista) (excerto do poema "Presença Africana" de Alda Lara, escrito a caneta num antúrio)

2020-05-23 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #102

Os veios da pós-memória e as novas literaturas | PT

Assistimos hoje na Europa à afirmação cultural de europeus herdeiros dos movimentos políticos e populacionais saídos das descolonizações e de outros fluxos migratórios para a Europa, ligados à fuga de guerras, à procura de refúgio económico, ao exílio político, ao desenvolvimento de estudos superiores e outros fatores. Hoje os descendentes destes movimentos são sujeitos e corpos políticos europeus que assumem memórias e identidades transnacionais e transterritoriais.

Johannes Grau (Plainpicture / Stockwerk)

2020-05-16 | Correia, Ana Paula Rebelo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #101

Ulisses que não regressa a casa | PT

"Ulysse from Bagdad", de Eric-Emmanuel Schmitt, foi publicado em França em 2008. Porquê escrever agora sobre um livro que tem mais de uma década? Se "escrever é agir", na expressão de Emmanuel Schmitt, ler é sem dúvida conhecer, refletir, pensar, e sobretudo não perder a memória de uma história da humanidade que se repete ao longo dos séculos. Para Saad, o protagonista de Ulysse from Bagdad, o gosto pela leitura é o gosto pela liberdade: "...Nesse dia ganhei o gosto pela literatura ou pela liberdade, o que é equivalente".

Parenthèse | 2018 | Katia Kameli (cortesia da artista)

2020-05-09 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #100

Obras de arte na condição da pós-memória (1) | PT

Na sequência das independências que se sucederam em África e na Ásia - em alguns casos ainda antes destas - deslocaram-se para a Europa e para as antigas nações colonizadoras centenas de milhares as pessoas. Esta migração era composta por grupos associados à estrutura colonial - os pieds-noirs, os retornados - por ex-militares das ex-colónias - colaboradores da administração colonial -, por exilados e por emigrantes que ao longo das décadas têm vindo vender a sua força de trabalho aos antigos países colonizadores. Homens na maior parte, às vezes acompanhados das suas mulheres, tendo alguns mais tarde constituído famílias criando descendentes que já vão na terceira geração.

geometrias | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2020-05-02 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #99

A tristeza da Terra e a voz das imagens | PT

Nas obras artísticas da pós-memória, são comuns os casos em que o artista revisita o passado colonial fazendo apelo a uma reinterpretação dos arquivos históricos marcantes, muitos deles silenciados ou esquecidos pelas gerações seguintes. Um dos eventos que tem dado lugar a uma série de fecundas representações artísticas é o das mãos cortadas, um dos episódios mais medonhos do período colonial da Bélgica no Congo, em que os colonizadores cortaram as mãos dos africanos, especialmente as crianças, como castigo e exemplo de autoridade.

linha do tempo | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2020-04-25 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #98

"Defenderam uma terra portuguesa": entrevista a um filho de um antigo combatente africano das Forças Armadas Portuguesas | PT

No âmbito do trabalho de campo do projeto MEMOIRS - Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias, financiado pelo Conselho Europeu de Investigação (n.º 648624) e sediado no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, foram realizadas, até à data, 169 entrevistas para recolher dados sobre as memórias herdadas pelos filhos e netos da geração que viveu os processos de descolonização de territórios dominados por Portugal, França e Bélgica no continente africano. A entrevista que se segue foi realizada no dia 1 de agosto de 2018, na Associação dos Deficientes das Forças Armadas, a Rui Barbosa de Andrade Lamarana.

capa do livro | 2020 | cortesia do autor

2020-04-18 | Faria, Paulo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #97

Paulo Faria, Gente Acenando para Alguém que Foge | PT

Esta terra não me explica nada. É um lugar onde um véu acrescido de distância me isola dos outros. Um lugar onde uma violência latente parece extremar posições. Um lugar onde se reencenam velhos conflitos que o tempo deixou em carne viva. Um lugar onde não há paz. Aqui, à primeira vista, é tudo à bruta, há vítimas e carrascos. Na verdade, é mais subtil. Em cada instante é preciso decidir se queremos ser vítimas ou carrascos. Podemos ser vítimas agora e carrascos daqui a cinco minutos ou o contrário.

Limite da série Reflexão | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2020-04-11 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #96

Ler Adorno em tempo de crise: da responsabilidade dos intelectuais (2) | PT

Quando Adorno morreu, em 1969, a Europa, assim como outras partes do mundo, atravessava um período de crise e de mudança profundas. Claro que essa crise era bem diferente da que estamos a viver hoje. Enquanto 1968 deu azo a um manancial de protestos sociais radicais contra o Estado e outras instituições, a crise atual, mesmo que venha a ocasionar mudanças ainda mais profundas a nível global, parece, à primeira vista, ser bem diferente, devido à ameaça imediata da saúde de todos, à possibilidade mais do que real de um nível de mortalidade sem par em tempo de paz e ao choque inevitável do sistema económico mundial.

Bruma da série Reflexão | 2019 | Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2020-04-04 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #95

A pós-memória e a condição da vítima | PT

A extraordinária proliferação dos estudos sobre trauma, memória e violência veio dar centralidade a conceitos cuja circulação generalizada redunda, com frequência, num efeito de banalização que põe a causa a sua operatividade analítica e exige, assim, uma crítica diferenciada. Esta crítica torna-se tanto mais necessária quando se verifica a tendência para reduzir os conceitos a uma forma singular, abdicando de uma reflexão sobre a sua especificidade.

Fábrica de Carboneto abandonada, Bhopal | 2014 | Giles Clarke

2020-03-28 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #94

O Coronavírus e as memórias do fim do mundo | PT

Num texto em que Manuel António Pina se detém nos sinuosos caminhos da memória, repreende o espelho: "Deveria lembrar-me de lembranças minhas, mas lembro-me de lembranças alheias" (Pina:1999). Estamos, é certo, fadados a dividir o passado entre as memórias que nos pertencem e as memórias alheias, aquelas que pouco ou nada nos dizem. O imperativo ensaiado pelo poeta seria inteiramente absurdo acaso aceitássemos que existe uma rígida fronteira entre as "lembranças minhas" e as "lembranças alheias", como se o corpo-memória apenas abarcasse aquilo que lhe acontece em primeira mão, numa estrita fenomenologia do recordável.

Todos do Mato | 2017 | Mica Barbot (cortesia da artista)

2020-03-21 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #93

Como derrubar ideias num século novinho: Uma radiografia da Europa | PT

Num encontro com o escritor português Gonçalo M Tavares, falávamos sobre como os meios de comunicação determinavam os nossos grandes assuntos de conversa. Nenhuma ditadura seria tão eficaz em conduzir essa escolha dos temas. Somos absolutamente manipulados, sobretudo por aquilo que vende. Sabemos que as tragédias humanas têm um valor económico volátil e que elas conduzem a nossa compaixão de maneira variável: no momento em que entramos em comoção por um ato de terrorismo, preterimos as tragédias ligadas aos refugiados ou à emergência climática.

Sibusiso Bheka | sem título | 2017-2019 | (cortesia do artista e da autora)

2020-03-14 | Angelucci, Federica

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #92

Fazer parte da imagem | PT

Às vezes, é preciso um momento ou um episódio catalítico para pôr em relevo de modo articulado uma série de pensamentos e ideias, um pouco como quando olhamos para as estrelas uma a uma por um longo período de tempo; apreciamo-las no seu carácter único e, no entanto, não reparamos na constelação que elas formam em conjunto; depois, uma rápida modificação da nossa posição permite-nos uma perspetiva diferente e as conexões vêm à luz.

Boltanski, in Bienal de Veneza | 2019 | arquivo MEMOIRS

2020-03-07 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #91

A ausência: o material da memória | PT

A exposição retrospetiva de Christian Boltanski no Centre Pompidou em Paris, Faire son temps (até 16 de Março), não representa só um tributo a um dos maiores artistas franceses contemporâneos que tem refundado e disseminado a "arte da memória", através de gestos salvíficos impressionantes. Esta exposição articula-se também como uma espécie de biografia ("falsa", como o artista a define) por obras, organizada na galeria do último andar que reúne uma pluralidade de objetos (fotografias, montagens, pinturas, materialidades várias, etc.).

Rubelis | 2016 | Yuran Henrique (cortesia do artista)

2020-02-29 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #90

Apesar de você | PT

A canção de Chico Buarque que dá título ao meu texto inscreve-se nos tempos da longa ditadura brasileira, que poderemos balizar entre o golpe militar de 1964 e 1988, com o movimento "Diretas já", ou seja, o da reclamação de eleições livres e universais. Entre um dissimulado diálogo de desgosto amoroso com uma mulher autoritária e um diálogo com o ditador, jogava-se a ambiguidade, que fez com que a canção tivesse passado na comissão de censura. Mas rapidamente acabou por ser proibida com toda a violência inerente às ditaduras perante aqueles que lhes são contrários.

Map Series | 2019 | Ana Mendes (cortesia da artista)

2020-02-22 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #89

Soberania intelectual | PT

Em Afrotopia, Felwine Sarr afirma que "para ser fecundo, um pensamento do continente (África) tem de transportar consigo a exigência de uma absoluta soberania intelectual". O autor, economista e escritor senegalês, tornou-se recentemente famoso por ter sido, com Bénédicte Savoy e a convite do presidente francês Emmanuel Macron, o autor do Relatório sobre a restituição do património cultural africano, tendo contribuído para isso o seu conhecimento da produção intelectual de autores africanos e da situação dos museus em África.

Luandscape 1 | 2018 | Ihosvanny Cisneros (cortesia do artista e da galeria MOVART)

2020-02-15 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #88

Reviver a guerra do pai: o fim da violência? | PT

Nas obras literárias da pós-memória, a figura do pai ausente é recorrente quando se quer abordar a questão da persistência do trauma pós-colonial nas gerações seguintes. Em Portugal, o romance Estranha Guerra de Uso Comum, de Paulo Faria, constitui talvez o exemplo mais significativo deste diálogo post-mortem à volta de um inquérito sobre a transmissão da experiência da guerra do pai para o filho. Contudo, neste conjunto de obras, há alguns casos em que o filho decide, através da escrita, reviver o passado traumático do pai desde o interior, num enredo que descreve com pormenores o tempo dos combates do progenitor. Nestes casos, o narrador privilegia os cenários do passado bélico para contar a guerra do pai como se ele estivesse no seu lugar.

Zungueira | 2018 | Cristiano Mangovo (cortesia do artista)

2020-02-08 | Can, Nazir Ahmed

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #87

De Trump ao cão-tinhoso: notas sobre a besta, o ser humano e outras (in)versões | PT

Com o amparo de mecanismos de natureza jurídica, científica ou artística, a exploração da diferença tem sido, desde sempre, uma das vias mais seguras para o exercício da dominação. Por penetrar no cotidiano ao ponto de criar uma ilusão de espontaneidade, esta prática engendra uma "estrutura de sentimento" cujos efeitos são perversos e duradouros. Ao reformular pautas, algumas muito antigas e outras nem tanto, o mundo de hoje reconstrói o cenário excepcional do "campo", além de inventar outros que, por serem móveis e líquidos, poderiam ser chamados de "mares de concentração".

Rocé e Adolfo Kaminsky | 2019 | instagram do artista @rocemusic

2020-02-01 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #86

Documentos falsos. Documentos salvos | PT

O que poderia ligar a vida do falsário Adolfo Kaminsky (1925), nascido na Argentina de pais judeus russos, ao rapper francês Rocé (1977) de origem Tuaregue-argelina? Adolfo Kaminsky migrou aos 6 anos para França com os pais e trabalhou desde os 13 anos numa tinturaria removendo manchas, trabalho que o colocou ao serviço da resistência, uma vez liberto do campo de Drancy em 1943. Tornou-se, a partir de então, e sigilosamente, um falsificador de documentos. Salvou judeus dos campos e, depois da guerra, enviou judeus para a Palestina, até que se desencantou com a criação de um estado judeu.

Eat time | 2017 | Cristiano Mangovo (cortesia do artista e da galeria MOVART)

2020-01-25 | Apa, Livia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #85

La Grande Bellezza: breve apontamento sobre a cultura em Itália, hoje | PT

No verão passado, foi editado em Itália um pequeno livro L'oppio del popolo (elèuthera, Milão), escrito por Goffredo Fofi, um conceituado crítico literário e cinematográfico, animador de importantes revistas que a partir dos anos 1970 desempenharam um relevante papel de divulgação crítica fulcral das artes, das sociedades e da cultura internacional, mas também da pedagogia e da educação ("Quaderni Piacentini", "Ombre Rosse", "Linea d'Ombra", "La terra vista dalla luna", "Lo straniero", "Gli Asini"), numa perspetiva que privilegiou sempre as experiências minoritárias e de quem pratica, quando necessário, atos de desobediência civil.

Grand-mother, from postmemory | 2019 | Rachida Brahim (cortesia da artista)

2020-01-18 | Brahim, Rachida

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #84

Morrer por ser. O racismo estrutural na França contemporânea | PT

A atualidade francesa tem sido regularmente marcada por casos que envolvem agentes da Polícia na morte de jovens de ascendência africana. Este tema da morte violenta ligada à colonialidade do poder inscreve-se numa longa história. Uma história completamente subterrânea e, no entanto, ensurdecedora, que remonta ao período colonial, continua a percorrer o seu caminho nas nossas mentes apesar das ablações das nossas memórias e línguas, apesar dos silêncios e das humilhações. Quando essa história ressurge, é para nos contar uma coisa tragicamente banal: não deveríamos morrer apenas por causa do nosso nome, da nossa cara, da nossa aparência.

De volta do Paraguai | 1870 | Angelo Agostini

2020-01-11 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #83

As "guerras das estátuas" e a cor da memória | PT

As "guerras das estátuas" têm dado brado nos EUA a propósito da profusa paisagem memorialística edificada em exaltação dos generais da Confederação (líderes político-militares dos Estados Confederados da América que, entre 1861 e 1865, se bateram pela secessão em oposição à abolição da escravatura). Lugares de peregrinação para os grupos de extrema direita afectos à supremacia branca, as estátuas de Robert Lee e de outros generais vêm sendo denunciadas por uma agenda anti-racista como parte de uma narrativa de "martírio branco", inscrita no espaço público desde as leis segregacionistas de fim do século XIX (as ditas Leis de Jim Crow).

sem título | 2019 | Yuran Henrique (cortesia do artista)

2020-01-04 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #82

"Sujeito implicado": um conceito a explorar | PT

A noção de "vítima" irrompeu no imaginário público no âmbito das discussões sobre o Holocausto, vindo a permear o debate sobre justiça, responsabilidade e memória. Para o historiador Enzo Traverso, no seu fascinante L'Histoire comme champ de bataille, a emergência da figura não é indissociável de um tempo em que a dimensão ontológica do futuro aparece como substancialmente rasurada.

Pieds noirs | sd | BBC news

2019-12-28 | Delaunay, Morgane

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #81

O Estado francês e o Estado português perante a chegada dos pieds-noirs e dos retornados | PT

Estima-se que no decurso dos processos de descolonização que tiveram lugar depois da Segunda Guerra Mundial, entre 5,4 e 6,8 milhões de pessoas que residiam nas colónias voltaram ou chegaram às metrópoles dos antigos impérios europeus. Durante o ano de 1962, chegaram a França cerca de 650.000 franceses da Argélia, território que se tornou independente em julho de 1962, após oito anos de guerra de libertação. Mais de uma década depois, em 1975, enquanto se encontrava no processo revolucionário inaugurado pelo golpe do 25 de Abril de 1974 que pôs fim a 48 anos de ditadura, Portugal acolheu cerca de meio milhão de portugueses que saíram principalmente de Angola e de Moçambique.

still do filme My father has a gun | 2019 | Ana Mendes (cortesia da artista)

2019-12-21 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #80

Vendavais (2) | PT

Em tempos sinistros, os flashes repentinos de resistência tornam-se mais intensos. Através da bruma de cinza que nos envolve, esses momentos podem atravessar as trevas do coração. Tal como Walter Benjamin bem sabia, [a] verdadeira imagem do passado passa por nós de forma fugidia. O passado só pode ser apreendido como imagem irrecuperável e subitamente Iluminada no momento do seu reconhecimento.

Casa para outros (instalação Ocupações) | 2013 | Diogo Bento (cortesia do artista)

2019-12-14 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #79

Luanda, Lisboa. Paraíso? | PT

O fim dos impérios ultramarinos europeus - com processos de descolonização muitas vezes pautados por conflitos armados e insurreições - foi trazendo para a Europa, ao longo das décadas de 60, 70 e 80, importantes fluxos populacionais, num processo marcado por deslocações, ambiguidades, integração, mas também fraturas, exclusões, segregação, invisibilidade, trauma e novas e complexas identidades - repatriados, pieds noirs, retornados, ex-combatentes das guerras coloniais, ex-colonizadores, ex-colonizados, refugiados das guerras civis, imigrantes.

Que ainda alguém nos invente | 2018 | Sofia Berberan (cortesia da artista)

2019-12-07 | Soares, Zia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #78

Contemporaneidades, artes performativas e financiamentos: anacronismos da linguagem | PT

O Teatro GRIOT é uma companhia de actores. Se, no início da companhia, há mais de dez anos, isso se deveu à necessidade de produzir espectáculos que permitissem a actores negros trabalhar regularmente, simultaneamente tornou evidente a necessidade de transpor para o palco questões relacionadas com a vivência quotidiana dos próprios actores.

Dentu Sol | 2019 | Yuran Henrique (cortesia do artista)

2019-11-30 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #77

Racismos à portuguesa | PT

A presença de Lilian Thuram em Portugal nos dias 26, 27 e 28 de novembro, não pode ser mais oportuna. Depois de uma reconhecida carreira como jogador de futebol, Lilian Thuram abraçou um outro projeto de sucesso, dedicando-se à educação contra o racismo a partir da Fundação, que preside e que parte do pressuposto que "ninguém nasce racista, torna-se racista".

Romaria | 2017 | Yuran Henrique (cortesia do artista)

2019-11-23 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #76

Pós-memória e ressentimento | PT

O conceito de pós-memória só pode ser correctamente equacionado no quadro de uma teoria das emoções. Na verdade, quando Marianne Hirsch, na sua definição já clássica, sublinha que existe pós-memória quando certas memórias foram transmitidas a uma segunda geração "de modo tão profundo que parecem constituir memórias em si mesmas", este "modo profundo" não pode significar senão a inscrição dessas memórias no plano emocional.

s/t (Rádio), da série Escuta os Bárbaros em Primeiro Lugar, Planalto Norte, Santo Antão | 2016 | Diogo Bento (cortesia do artista)

2019-11-16 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #75

Rituais de uma memória fraturada | PT

Num livro clássico dos estudos da memória, The Ethics of Memory, de Avishai Margalit, observa-se que, na memória, muitas vezes não há moralidade. Por isso, é necessário refletir sobre uma ética, individual e coletiva, dos seus usos. Este traço da memória torna-se evidente em contextos históricos de guerras de memória, deflagradas e em curso. Trata-se dos conflitos que surgem quando o uso do passado não cria elos comunitários. Estamos perante essa situação quando, a partir de uma dialética de salvação e esquecimento - ou, também, de uma política de perdão - os traumas vivenciados e sofridos não conseguem fundar uma imagem inclusiva e não fraturante da história.

O rosto que falta | Fotografia do arquivo privado de Paulo Faria (cortesia de Paulo Faria)

2019-11-09 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #74

Nós, eles, porquê? (a propósito de Paulo Faria) | PT

Num texto recentemente publicado no Público, "O rosto que falta", Paulo Faria escreve sobre uma fotografia da guerra colonial que lhe mostrou um alferes no decorrer de uma entrevista. A fotografia, que corta o texto em dois na dupla página do jornal, representa uns militares portugueses na Guiné a segurarem o corpo de um africano morto por eles, que aparece desfocado no primeiro plano, numa encenação que tem muito de teatral. A imagem é, como todas as fotografias de guerra, carregada de uma violência inerente ao contexto em que foi tirada.

Sapatos | 1994 | Teresa Dias Coelho (cortesia da artista)

2019-11-02 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #73

Museus: zonas de contacto por excelência | PT

Comecemos pela definição de museu, criada pelo ICOM (International Council of Museums) a 24 de Agosto de 2007, que considera que é "sua missão, a sua espinha dorsal" e o que o distingue de outras instituições: "O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite."

Lilian Thuram | Photo Conseil de l'Europe

2019-10-26 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #72

Por que razão o racismo ainda é uma questão europeia? | PT

Nas últimas semanas, Lilian Thuram, futebolista campeão do mundo pela França em 1998, voltou ao centro das notícias e debates na Europa quando se pronunciou em defesa de um jogador negro vítima de racismo de torcedores. Thuram teve a coragem de dizer que os brancos pensam ser superiores e acreditam nisso, pois o racismo é uma construção de séculos e muito difícil de ser mudada.

Bilhete para o concerto de Djamal e GNR | 1997 | Coliseu do Porto

2019-10-19 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #71

Dos primórdios do rap em Portugal: margens e centro, acomodação e emancipação | PT

A recente discussão em torno do músico Valete lançou um debate sobre o lugar da mulher no rap e da cultura hip-hop e da permanência de uma enraizada misoginia em alguns dos seus cultores. Num dos seus últimos temas, o rapper conta a história de um homem que encontra a mulher com o melhor amigo, desencadeando uma raiva machista que o conduz a insultos vários e a imaginar um cano de caçadeira enfiado na garganta da companheira.

Sketchbook, Vista do Aljube, Lisboa (desenhos a lápis, tinta, aguarela) | 2019 | Sharon Lubkemann Allen (cortesia da artista)

2019-10-12 | Allen, Sharon Lubkemann

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #70

Os novos navegadores da memória cultural portuguesa | PT

Há algo atraente nos mapas antigos que traçam as rotas da navegação portuguesa enquanto obras de arte primorosamente desenhadas em pergaminho ou em papel precioso. Como artefactos históricos atravessados por linhas entrecruzadas ligando portos, cabos, e outras extrusões costeiras, traçando rumos com o sistema minucioso da rosa dos ventos que reflete tanto inovação como os limites da compreensão científica. Os mapas são também como artigos marcados pelo tempo, que foram arquivados, recuperados, reenquadrados em contextos culturais continuamente revistos.

Guiné-Bissau: Da Memória ao Futuro | 2019 | Garden Films / CES-UC (cortesia da realizadora)

2019-10-05 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #69

"Guiné-Bissau: Da Memória ao Futuro" | PT

No dia 24 de setembro de 2019, no dia do 46.º aniversário da independência da Guiné-Bissau, estreou na RTP África o documentário "Guiné-Bissau: Da Memória ao Futuro", realizado por Diana Andringa (com o guião escrito em parceria com Miguel Cardina, o filme foi produzido pela Garden Films e pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra). Trata-se de um filme que me é próximo, desde logo por resultar do labor de investigadores/as do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra no âmbito projecto CROME - Memórias Cruzadas, Políticas do Silêncio, mas também por ter tido uma modestíssima intervenção como interlocutor de algumas das entrevistas - realizadas à margem do Colóquio "Memórias e Legados das Lutas de Libertação", decorrido em Bissau em setembro de 2018.

da série Mãos | 2015 | Teresa Dias Coelho (cortesia da artista)

2019-09-28 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #68

Divertimentos sinistros de Verão. Da "Responsabilidade dos Intelectuais" (I) | PT

O Verão acaba sempre cedo demais. Este ano, no entanto, o seu fim real, assim como a sua continuação metafórica, foram sentidos de maneira mais brusca, devido aos ataques intensificados às democracias europeias e a qualquer tipo de futuro para uma Europa unida e em paz. Muitas causas podem ser invocadas, mas prefiro, neste momento, concentrar-me apenas em uma: a incapacidade de muitos europeus em aceitarem a condição pós-imperial da Europa e a sua voluntária falha de memória.

The Honourable Justice Julia Sakardie-Mensah | 2005 | Pieter Hugo (courtesia do artista e de Michael Stevenson, Cape Town)

2019-09-21 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #67

À espera do Próximo Futuro (II) | PT

O futuro do Ocidente está estreitamente ligado ao do mundo não ocidental. As questões ambientais que o mundo enfrenta e o crescimento inexorável do poder económico da China e de outros países asiáticos fazem com que o Ocidente não possa olhar "para o que vem a seguir" da mesma forma que o fazia antes. Mas o desafio é bem mais profundo do que o atual debate sobre o "declínio do Ocidente" sugere.

Kanimambo | 1998 | Ângela Ferreira (cortesia da artista)

2019-09-14 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #66

À espera do Próximo Futuro | PT

Nos últimos anos, uma série de acontecimentos e controvérsias trouxeram para a Europa e para Portugal o impropriamente chamado "regresso do passado colonial", mais ou menos silenciado desde os tempos das descolonizações, com todos os movimentos populacionais do chamado retorno, de colonos, funcionários, militares das antigas colónias africanas em pleno período revolucionário de 1974-75. Era o fim de uma era para Portugal, o princípio de outra. À parte os romances que retratavam a realidade do que tinha sido a Guerra Colonial, o silêncio foi a marca dos anos 80 e 90 do século passado, relativamente a este passado recente português.

Série Ma Demeure | 2018 | Dalila Dalléas Bouzar (cortesia da artista)

2019-09-07 | Machado, Helena e Sheila Khan

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #65

A Memória e a História inscritas nas Tecnologias Genéticas de Combate ao Crime | PT

No seu belo ensaio "A Ideia de Europa", George Steiner romanticamente eterniza e descreve uma Europa que se enaltece como multicultural, cosmopolita, solidária e sem fronteiras. Mas esta é também uma Europa que se confronta com os fantasmas do seu passado, perante os atentados que temos testemunhado em França, em Espanha, na Bélgica, no Reino Unido, e que nos deixa, a nós Europeus, surpreendidos com a nossa própria memória sem dela conseguirmos tirar ilações e lições.

Dis- | 2019 | Arne Kaiser (cortesia do artista)

2019-08-24 | Kaiser, Arne

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #64

Dis- | PT

A vida cultural é a nossa maneira de adicionar novas facetas criativas às sociedades em que vivemos. Hoje em dia assistimos à presença de movimentos regressivos e iniciativas contra a cultura, tentando reviver mitos do passado e reescrever os fundamentos da nossa contemporaneidade. Ativismo contra a mudança, iniciativas contra o progresso, retrocesso versus criação; desconfiança em relação ao que é ambíguo e diferente, desconfiança sobre o que não se encaixa facilmente no dia a dia ou não é instantaneamente valorizado e consumido.

Sketchbook, views from the Aljube, Lisbon (desenhos a lápis, tinta, aguarela) | 2019 | Sharon Lubkemann Allen (cortesia da artista)

2019-08-17 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #63

Uma breve reflexão sobre a exposição The Portuguese Prison Photo Project no Museu do Aljube - Resistência e Liberdade | PT

Desde o passado dia 11 de maio, e até ao dia 29 de setembro de 2019, o Museu do Aljube - Resistência e Liberdade exibe a exposição The Portuguese Prison Photo Project. Trata-se de um conjunto de fotografias sobre prisões portuguesas captadas por dois fotógrafos, um português, Luís Barbosa, especialista em documentação fotográfica de cariz social e cultural (Prémio Sociedade Portuguesa de Autores, 2017 na sequência do trabalho desenvolvido para a exposição), e um suíço, Peter M. Schulthess, que trabalha fotografia de arquitetura, preferencialmente espaços prisionais.

Série Mãos | 2015 | Teresa Dias Coelho (cortesia da artista)

2019-07-27 | Santos, Irène dos

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #62

Portugal-Angola: Regressos e derivações das memórias plurais na sociedade portuguesa | PT

Desde os anos 2000 que tem vindo a emergir em Portugal uma pluralidade de narrativas sobre o passado colonial, com uma multiplicação de registos ficcionais e autobiográficos da autoria de antigos combatentes na Guerra Colonial, bem como de desertores, refratários, anti-colonialistas e retornados. Estas memórias e pós-memórias analisadas no âmbito académico dos estudos literários e dos estudos pós-coloniais têm vindo a contribuir para a visibilidade da questão memorial no espaço público.

Mínimos detalhes de paisagem | 2015 | Cristina Ataíde (cortesia da artista)

2019-07-20 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #61

Vendavais [1] | PT

Já se fez tarde e o Anjo benjaminiano, o seu "Anjo do Progresso", já não é o de Paul Klee, jaz ele mesmo em cacos no meio de destroços seculares. O seu rosto distorcido e as suas asas quebradas estão manchados de sangue vermelho. É claro que falhou completamente não só em conter o vento que soprava do Paraíso, mas outro tipo de vendaval, mais capaz de vir do Inferno, ou daquilo que passa por Inferno nos nossos dias, a perversão humana, demasiado humana, dos poderosos, na sua investida para nos reduzir, a todos nós outros, à condição de escravos ou animais.

A minha professora disse que era preciso dominarmos bem a língua francesa | 1985 | Alain Le Saux

2019-07-13 | Santos, Graça dos

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #60

Glotofobia: da discriminação linguística ao racismo pelo sotaque | PT

"Na nossa sociedade a linguagem é um instrumento de dominação e de discriminação poderoso e desconhecido. Impor a sua língua como a única aceitável, estimável, razoável e menosprezar, desqualificar, rejeitar uma pessoa pela sua maneira de falar, o seu sotaque ou o seu vocabulário é tão ilegítimo como rejeitá-la pela sua religião, a cor da sua pele ou a sua orientação sexual - as várias discriminações mais ou menos reconhecidas e punidas pela lei em França". As discriminações fundamentadas na língua são no entanto ainda largamente ignoradas, embora afetem milhares de pessoas.

The Bedroom in English | 2015 | Tatiana Macedo (cortesia da artista)

2019-07-06 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #59

Cenas da memória colonial: a decadência e as ruínas de Macau | PT

A decadência não é só uma forma própria de uma certa vertente da modernidade. É também um modo de lançar um olhar retrospetivo em relação a um passado carregado e condicionador: as inapagáveis tintas da decadência, a que Frantz Fanon se refere no contexto colonial da guerra da Argélia. A decadência assume assim a forma de uma relação tensa entre presente e passado. E pode também ser inscrita dentro de uma dinâmica de transmissão do passado, onde a memória vivencial que se pretende transmitir sofre uma alteração, uma reformulação profunda, degrada-se e, de algum modo, perde força de representação: a identidade impossível com um passado escoado e próximo da extinção.

Impermanências (foto de Alberto Mayer) | 2009 | Cristina Ataíde (cortesia da artista)

2019-06-29 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #58

A restituição das obras está por todo o lado | PT

Há tempos uma amiga enviou-me uma mensagem onde dizia: "agora esta coisa da restituição das obras está por todo o lado, ou sou eu que não tinha reparado? ...até num romance policial que estou a ler". Está por todo o lado e não é de agora. De facto, a reclamação pela devolução das obras apropriadas durante o colonialismo e também no pós-colonialismo inicia-se no século XVIII, mas o debate internacional e o processo para a sua execução tomaram recentemente proporções internacionais desde que o presidente francês Emmanuel Macron declarou num discurso em Ouagadougou a intenção do Estado francês em devolver as obras levadas das ex-colónias francesas e depositadas nos museus e arquivos de França.

Pico do Areeiro #1 - Madeira | 2008 | Cristina Ataíde (cortesia da artista)

2019-06-22 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #57

Máscaras europeias | PT

Na Europa contemporânea, após vários decénios do fim dos colonialismos, os episódios de racismo são recorrentes nos múltiplos espaços sociais de um continente que ainda tem dificuldades em assumir o seu passado imperial. As notícias nos jornais sobre este assunto não são poucas. A crescente presença dos partidos de extrema direita no panorama europeu (como demonstram, aliás, os resultados das últimas eleições europeias) favorece os discursos e comportamentos de exclusão e discriminação por parte de alguns cidadãos em relação aos seus concidadãos.

Monumento Comemorativo 25 de Abril, Portugal da Liberdade | Fontenay-sous-Bois, França (wikimedia commons)

2019-06-15 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #56

A recusa da guerra e o abismo colonial | PT

Numa das paredes da sala, incidindo no grande mapa esculpido em mármore branco que representa as navegações portuguesas do século XV e XVI, um foco de luz aponta para África e deixa entrever a sombra de Salazar fazendo o seu célebre discurso de Braga, em 1936, no qual declarou a indiscutibilidade de Deus, da Pátria e da Família. Assim termina o percurso da exposição Refuser la Guerre Coloniale, organizada pela associação Mémoire Vive, e que esteve aberta ao público na Casa de Portugal da Cidade Universitária de Paris entre abril e maio passado.

Feiticeira | 8 de Maio a 27 de Julho | Mostra de grupo | Julien Salaud, Katia Bourdarel, Dalila Dalléas Bouzar, Mehdi-Georges Lahlou, Marion Laval-Jeantet, Myriam Mechita, Annette Messager

2019-06-08 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #55

Silêncios que viram arte | PT

A lei do dia 23 de fevereiro de 2005, votada pelo parlamento francês exprime "o reconhecimento da Nação em favor dos franceses repatriados" e manifesta o desejo de a França revisitar o seu passado colonial, especialmente ao inscrevê-lo nos livros e programas escolares e universitários. Passados 14 anos sobre a publicação da lei, podemos observar que, até agora, a maioria do debate deu-se num ambiente revisionista, sendo recentes os estudos que questionam o discurso oficial.

Orientalism and Reverse | 2015 | Tatiana Macedo (cortesia da artista)

2019-11-01 | Reza, Alexandra

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #54

"Domésticas insubmissas": práticas de resistência de mulheres em Nova York | PT

O artigo de Saidiya Hartman, "The Anarchy of Colored Girls Assembled in a Riotous Manner" (2018), oferece uma "história especulativa" de Esther Brown, uma mulher negra que viveu em Nova York nas primeiras décadas do século XX. Hartman procura entender a vida "selvagem e desobediente" (469) de Esther Brown: como e por que razão o Estado a encarcerou e qual o significado dos gritos coletivos em que participou na prisão.

Ethiopian Walks | 2017 | Cristina Ataíde (cortesia da artista)

2019-05-25 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #53

Os Negros em Portugal | PT

Publicado originalmente em 1988, o livro Os Negros em Portugal, de José Ramos Tinhorão, foi recentemente objecto de uma terceira edição pela Caminho. A obra de Tinhorão permite percorrer diferentes aspectos da presença em Portugal de uma significativa população negro-africa, estabelecida em resultado do tráfico de escravizados encetado partir do século XV. A historiografia portuguesa, por diferentes razões, entre as quais certamente se inclui a permanência tutelar de um pudor lusotropicalista no olhar para o passado colonial, tardou em dar o devido relevo ao tema da escravatura, o que, desde logo, confere relevo à incursão histórica de Os Negros em Portugal.

Retrato de dois criados, Diego Bemba e Pedro Sunda, que acompanharam D. Miguel de Castro, embaixador do Congo, ao Brasil | 1643 | Albert Eckhout (1610-1665)

2019-05-18 | Jerónimo, Miguel Bandeira

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #52

"Congoísmos", a Norte (e a Sul) | PT

A arte da produção e sedimentação de estereótipos - operada em diferentes contextos históricos, com numerosos protagonistas e interesses em jogo, envolvendo vários expedientes e instrumentos - foi sempre muito útil à imaginação (geo)política. Serviu, e serve, várias ideologias de serviço, com diversas justificações. Foi, e é, também particularmente proveitosa para outros sectores, por exemplo, os académicos e os artísticos, que amiúde, e sem hesitar, contribuem para as operações políticas e ideológicas, ao contrário de uma certa imagem de autonomia, crítica e distinção que projectam.

da série Sporting Narratives | 2018 | Márcio Carvalho (cortesia do artista)

2019-05-11 | Saraiva, Tiago Mota

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #51

O bom arquitecto português - tropicalizando o colonialismo: uma leitura crítica sobre a narrativa pós-colonial produzida a partir da ideia de "arquitectura portuguesa" | PT

Os estudos pós-coloniais têm vindo a ganhar centralidade no questionamento das problemáticas ligadas às identidades dos povos e, consequentemente, na disputa política. Do ponto de vista europeu constitui-se como uma das áreas do conhecimento mais determinantes para a construção do futuro da Europa e da sua relação com o Mundo.

You can cut all the flowers but you cannot keep spring from coming | 2018 | Mónica de Miranda (cortesia da artista)

2019-05-04 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #50

Autotopografias - Peter Weiss em Auschwitz | PT

É sabido como o conceito de pós-memória foi entrando progressivamente no discurso científico a partir da publicação da obra Family Frames, de Marianne Hirsch, em 1997. A reflexão sobre as dimensões transgeracionais do conceito de memória é, contudo, naturalmente, muito anterior à proposta de Hirsch.

Joëlle Sambi | 2019 | Lyse Ishimwe

2019-04-27 | Sambi, Joëlle

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #49

Musala, o trabalho | PT

É que temos de andar na linha, sorrir com todos os dentes ao vento: aos colegas aglomerados em volta da máquina de café (pausa)Três vezes ao dia. Três vezes. Mesmo que seja já uma vez a mais, mesmo que sejam os mesmos colegas e que já te tenhas cruzado com eles no elevador, no corredor, no terceiro andar, na reunião e, às vezes - que azar - à saída da casa de banho. (...)

The Black Boy | 1844 | William Lindsay Windus

2019-04-20 | Santos, Hélia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #48

Portugueses invisíveis | PT

Nos dois últimos anos em Portugal assistimos a debates públicos sobre a identidade nacional, inéditos não só pela amplitude que ganharam fora do meio académico, mas também pelos atores que chegaram ao palco mediático e ganharam espaço na formação da opinião pública. Penso, em particular, na ação de associações não governamentais de jovens não brancos portugueses ou a viver em Portugal, como por exemplo a DJASS, a INMUNE, a Plataforma Gueto, entre outras (...)

Bonheur d'Amour Prussien | 1890 | Emil Doerstling

2019-04-13 | Correia, Ana Paula Rebelo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #47

Negro, entre pintura e história | PT

Pode um branco e europeu representar um negro e um afro-brasileiro? Esta questão, colocada por António Pinto Ribeiro em 2006, poderia ter sido o mote para a obra Noir, entre peinture et histoire, agora publicada em França, que nos leva num périplo pela pintura europeia do século XV ao início do século XX, à descoberta do modo como o europeu, pintor ou encomendador da pintura, via, entendia e representava as pessoas negras.

Vale dos Caídos | Fotografia de Francisco Ferrándiz

2019-04-06 | Ferrándiz, Francisco

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #46

O Vale dos Caídos no século XXI | PT

O Vale dos Caídos é o monumento mais polémico da Espanha contemporânea. Francisco Franco concebeu o projeto durante a Guerra Civil (1936-1939), a fim de receber os corpos daqueles que morreram lutando ao seu lado, "por Deus e pela Espanha", e para comemorar seu sacrifício e martírio.

Afri-Cola | 2017 | Tatiana Macedo (cortesia da artista)

2019-03-30 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #45

48 Retratos de guerra / 48 Bombas relógio / 48 Elegias | PT

W.H.R. Rivers foi um antropólogo britânico e psiquiatra no hospital militar de Craiglockhart, na Escócia. Corria a Primeira Guerra Mundial. Rivers foi o autor da clássica conferência "The Repression of War Experience", proferida em 4 de Dezembro de 1917 na Royal Society of Medicine, em Londres, e posteriormente publicada em The Lancet em Fevereiro de 1918.

Loup de verdure | 2017 | Louise Narbo (cortesia da artista)

2019-03-23 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #44

O que se pode fazer ao ver com os olhos de um outro | PT

(...) as fotografias de Louise Narbo são particularmente provocadoras no que toca a alguns processos que parecem compor a pós-memória, isto é uma memória "de segunda geração, filha de uma primeira de testemunhas (vivenciais, presenciais, experienciais), marcada pelo silêncio".

Fantástica (da série Open House) | 2006 | José Bechara (cortesia do artista)

2019-03-16 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #43

Assassinos | PT

A dado momento no romance Beloved (1987), de Toni Morrison, galardoado com um Pulitzer, Sethe, a protagonista diz: "Algumas coisas vão-se. Passam. Algumas coisas ficam. Eu costumava pensar que era a minha rememória. Você sabe. Algumas coisas esquecemos. Outras nunca se esquecem. Mas isso não. Sítios, os sítios ainda estão lá.

Folhas de Outono | 2018 | Autor anónimo

2019-03-09 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #42

Comemorações institucionalizadas e monstros da memória | PT

Será que a memória - como diz o poeta Júlio Castañon Guimarães, num famoso poema de um só verso - "tem os seus dias contados" - A memória possui o seu dia especial de comemoração, o dia da memória, 27 de Janeiro.

Madrinhas | 2018 | Amilton Neves (cortesia do artista)

2019-03-02 | Trindade, Rui

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #41

"Madrinhas de guerra" moçambicanas: uma história por contar | PT

Incluída na programação da edição de 2018 do festival Maputo Fast Forward, a exposição Madrinhas de Guerra, do jovem fotógrafo moçambicano Amilton Neves, teve, entre outros méritos, o de trazer para o espaço público um tema que, apesar de terem passado mais de quarenta anos sobre a independência de Moçambique, continua a ser considerado "delicado".

Luanda | 2018 | Tatiana Macedo (cortesia da artista)

2019-02-23 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #40

Da Guerra Colonial: memórias e pós-memórias, transmissão e imaginação | PT

Quando a literatura busca transmitir a experiência da violência, o resultado está determinado pela distância entre quem escreve e a realidade traumática referida. Existem, no entanto, constantes entre as representações artísticas da memória feitas pelas testemunhas directas dos acontecimentos e aquelas reelaboradas pelos seus descendentes (as chamadas pós-memórias).

Twins (da série Cinema Karl Marx | 2017 | Mónica de Miranda (cortesia da artista)

2019-02-16 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #39

Questões de língua, multilinguismo e exílio | PT

O Senhor, porém, desceu, afim de ver a cidade e a torre que os homens estavam a edificar. E o Senhor disse: «Eles constituem apenas um povo e falam uma única língua. Se principiaram desta maneira, coisa nenhuma os impedirá, de futuro, de realizarem todos os seus projectos. Vamos, pois, descer e confundir de tal modo a linguagem deles que não consigam compreender-se uns aos outros».

Mural de Vhils em homenagem a Marielle Franco | Brave Walls initiative | Scratching the Surface project | 2018 Foto de Felipe Cammaert | Panorâmico de Monsanto, Lisboa

2019-02-09 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #38

Enlaces: artes periféricas, artivismo e pós-memória | PT

O espaço urbano das grandes capitais europeias abarca pessoas de diversas origens geográficas que habitam sobretudo suas periferias. Dessa relação social e geográfica desigual emergem demandas que devem ser tratadas com urgência para evitarmos a (re)produção de novas formas de colonialidade.

Amílcar Cabral

2019-02-02 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #37

De Amílcar Cabral ao Bairro da Jamaica | PT

Aproximando-se a data em que se cumprirão os 45 anos do assassinato de Amílcar Cabral (20 de janeiro de 1973), decidi submergir na volumosa colectânea Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena - A Outra Face do Homem (2016). Neste livro estão compiladas as cartas que, entre 1946 e 1960, o líder independentista enviou a Maria Helena, sucessivamente amiga, namorada e esposa.

¿Con cuántas piedras se hace una balsa? | 2012 | Rodrigo Oliveira (cortesia do artista)

2019-01-26 | Jerónimo, Miguel Bandeira

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #36

Um solilóquio, vários "fantasmas" | PT

A Kodak tem sido uma dolorosa calamidade para nós. De facto, é o inimigo mais poderoso que já enfrentámos. Nos primeiros anos, não tivemos dificuldade em levar a imprensa a "expor" os relatos de mutilações como calúnias, mentiras, invenções de missionários americanos intrometidos e estrangeiros exasperados que descobriram que a "porta aberta" da carta Berlim-Congo lhes estava fechada quando se apresentaram inocentemente para fazer negócio; (...)

Mais Um Dia de Vida | 2018 | cortesia Midas Filme

2019-01-19 | Santos, Hélia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #35

Mais um Dia de Vida: memorialização do jornalista, esquecimento de Angola | PT

Em novembro de 2018, circulou nas salas de cinema em Portugal a adaptação ao cinema do livro Mais um Dia de Vida: Angola 1975 do jornalista Ryszard Kapuscinski, originalmente publicado em 1976. Polaco (1932-2007), o jornalista foi correspondente de guerra durante grande parte da sua vida profissional, tendo acompanhado de perto os processos de independência de vários países em África, e não só.

Spell Reel | 2017 | Filipa César

2019-01-12 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #34

Luta Ca Caba Inda: do arquivo ao fragmento | PT

No princípio foi um gesto. No auge da luta de libertação, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) decidiu enviar para Cuba um conjunto de jovens para se formarem profissionalmente. Dos 25 jovens chegados em 1967, quatro deles - Flora Gomes, Sana na N'Hada, Josefina Lopes Crato e José Bolama Cobumba - iriam estudar cinema, sendo-lhes endossada a posterior tarefa de filmar a luta.

Habitações serviçais | 2015 | Carla Cabana (cortesia da artista)

2019-01-05 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #33

Fórum Humboldt ou Fórum de Benim? | PT

A entrega do relatório de Bénédicte Savoy e Felwine Sarr a Emmanuel Macron, seguida pela promessa do presidente francês de aceitar as indicações destes peritos no sentido da identificação e restituição de peças de origem colonial indevidamente retidas em museus franceses, veio dar um impulso renovado a uma discussão que está, seguramente, muito longe de terminar.

Piroga, Ubundu, RDC (1958), no corredor do AfricaMuseum | 2018 | foto de MEMOIRS

2018-12-22 | Ribeiro, António Pinto e Margarida Calafate Ribeiro

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #32

A restituição das obras: um passo decisivo no processo de descolonização | PT

Na Bélgica, no dia 7 de Dezembro de 2018, o Museu Real da África Central foi definitivamente encerrado e no seu lugar abriu o AfricaMuseum. Este novo museu belga federal sucede ao Museu do Congo, criado em 1898, pelo Rei Leopoldo II na sequência da Exposição Universal de Bruxelas de 1897.

I dont trust myself | 2015 | Carla Cabanas (cortesia da artista)

2018-12-15 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #31

Os (re)usos do passado | PT

As eleições de outubro 2018 no Brasil vão ocupar ainda por muito tempo o interesse dos analistas e dos investigadores. Multíplices motivos confirmam como o Brasil continua a ser um laboratório avançado de técnicas políticas em cuja contraluz se enxergam talvez traços de um futuro também nosso. A centralidade inesperada dos social media em relação aos meios de comunicação mais tradicionais, o abuso das fake news, a politização do sistema judiciário, o ocultamento das intenções governamentais (...)

2 twist tomorrow is another day | 2017 | Mónica de Miranda (cortesia da artista)

2018-12-08 | Curado, Vasco Luís

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #30a

A Vénus Hotentote, o seu público e a ciência | PT

Em 2002, a África do Sul recuperou os restos mortais de Sarah Baartman, para lhe dar um funeral na sua terra natal. Durante mais de 150 anos, estes despojos, um esqueleto e alguns órgãos conservados em formol, não foram tratados como os restos de uma pessoa cujos direitos são defendidos por leis universais, mas sim como peças zoológicas de museu.

2 twist tomorrow is another day | 2017 | Mónica de Miranda (cortesia da artista)

2018-12-08 | Silva, Mónica V.

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #30b

Sim, europeus e afrodescendentes | PT

Pela primeira vez, em 2018, o Parlamento Europeu dedicou uma semana ao conhecimento e reconhecimento das especificidades dos cerca dos 15 milhões de europeus afrodescendentes a viver na Europa. A primeira People of African Descent Week  (...)

Jogo de nuvens | 2015 | Carla Cabanas (cortesia da artista)

2018-12-01 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #29

Um raiva tão surda | PT

O primeiro capítulo de Maintenant (Agora), um livro recente assinado pela coletiva Comité Invisible, traz um título tão significativo quanto ameaçador: "Amanhã está cancelado". Começa com uma série de observações sobre o nosso momento atual: Todas as razões para fazer uma revolução estão presentes. Não falta uma. O naufrágio da política, a arrogância dos poderosos, o reino da falsidade, a vulgaridade dos ricos, os cataclismos da indústria, a miséria galopante, a exploração nua, o apocalipse ecológico - não nos poupam nada, nem sequer deixamos de ser informados sobre tudo isso.

Muaua | 2017 | Paulo Faria (cortesia do artista)

2018-11-24 | Faria, Paulo

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #28

Pedra, algodão ou petróleo | PT

- Veja aqui, veja! Era o que estávamos a dizer. Dedos ávidos a abrir à força a boca do saco, a incliná-lo para mim, a arrancar às mãos-cheias o algodão avermelhado, sujo de terra. O saco vomita uma pedra, depois outra. Um tijolo de adobe. Há risadas. O chefe de brigada manda procurar os outros sacos que têm o mesmo nome escrito por fora. Já tinham sido pesados e postos na camioneta.
- São três sacos. Este e mais dois. Faltam dois.
 

Casa (da série Open House) | 2006 | José Bechara (cortesia do artista)

2018-11-17 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #27

Quando nem sequer os mortos veem o fim de uma guerra | PT

Na obra Soliloquios en Inglaterra e Soliloquios Posteriores , escrita entre 1914 e 1921, o filósofo espanhol George Santayana disse: "Apenas os mortos viram o fim da guerra". De facto, quando as guerras terminam, nem tudo aquilo que elas destruíram, criaram, violentaram e profanaram parece ter fim. Contudo, entre os muitos restos, destroços e heranças que as guerras vão deixando, e que inevitavelmente contaminam várias gerações, por vezes nem sequer os mortos parecem ver o seu fim.

Horizontes (da série Guiné) | 2015 | Filipe Branquinho (cortesia do artista)

2018-11-10 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #26

Mitologia e memória | PT

As neurociências ainda não explicaram integralmente o funcionamento da memória. Do ponto de vista cultural, pelo arquivo enorme de obras artísticas que se realizaram sobre o desejo de salvação do passado, possuímos alguns elementos, às vezes predominantemente figurais, que mostram em detalhe a urdidura da teia de Penélope da memória, como a definia Walter Benjamin, referindo-se a Proust.

As guerrilheiras, 1929 | 2017 | Omar Victor Diop (cortesia do artista e da Autograph ABP)

2018-11-03 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #25

Liberdade / Diáspora. A cronologia universal da descolonização da história | PT

Cortejando talvez o secreto desejo de nos acreditarmos cuidados por forças benfazejas, além dos mundanos sortilégios e dos quereres que nos decidem as fortunas de cada dia, lemos frequentemente generosas coincidências em encadeamentos que logo se explicam afinal tão prosaicos. Foi precisamente a enganosa bênção de uma dessas coincidências que senti quando, caminhando por Londres, entrei na galeria Autograph (Rivington Place), onde me pude passear pela exposição LIBERTY / DIASPORA, de Omar Victor Diop.

Palomo | 2014 | Berna Reale (cortesia da artista)

2018-10-27 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #24

A dissociação entre a verdade e a memória | PT

Os tempos sombrios vividos no Brasil espelham nossa perplexidade sobre o esmorecimento das notícias perante as fake news. A estratégia eleitoral onde uma mentira vira verdade não é exclusividade das mídias sociais modernas. Falta-nos saber como devolver a verdade à verdade. Como conjugar a verdade com a construção da memória no fazer da história – especialmente nos casos recentes de incineração (in)voluntária de arquivos em importantes museus do Brasil.

Museo Casa de la Memoria (Medellín) | 2018 | fotografia de Felipe Cammaert

2018-10-20 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #23

Sobrevivemos? | PT

A exposição temporária da Casa Museo de la Memoria, intitulada Medellín/es 70, 80, 90, apresenta uma cronologia dos eventos que marcaram as três décadas mais atrozes da história da segunda maior cidade da Colômbia – e uma das mais violentas do mundo – no final do século XX.

Space to Forget (óleo sobre tela) | 2014 | Titus Kaphar © Titus Kaphar. Cortesia do artista e da galeria Jack Shainman, Nova Iorque

2018-10-13 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #22

A tessitura da memória | PT

Tendo em conta os desenvolvimentos importantes no campo dos estudos sobre memória que tiveram lugar nos últimos vinte anos, poderíamos ser perdoados por pensar que havíamos entrado numa fase de profunda amnésia cultural. Em todo o mundo assistimos ao ressurgimento de forças empenhadas em reverter todas e quaisquer conquistas emancipatórias dos últimos dois séculos, seja no campo da política, das relações de gênero, das questões raciais, ou mesmo da ciência básica.

Gabinete de curiosidades | 2017 | Rosana Paulino (cortesia da artista)

2018-10-06 | Jerónimo, Miguel Bandeira

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #21

Em torno das reparações | PT

A história das reparações exigidas em razão da escravatura e do tráfico de escravos é longa, complexa e rica. Mais longa e recorrente do que se julga comummente. Não é um fenómeno recente, resultado apenas de debates contemporâneos sobre identidades individuais ou colectivas.

black moon | 2018 | Nú Barreto (cortesia do artista)

2018-09-29 | Santos, Hélia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #20

Esquecer em português | PT

Compreendemos uma sociedade tanto pelo que ela acalenta na sua memória coletiva, como pelo que ela esquece. É um facto: as sociedades esquecem. É um processo necessário à criação de identidades coletivas, de solidariedades políticas, de projetos de governação da sociedade, de sobrevivência e de reinício coletivo após guerras civis ou outros eventos responsáveis por ruturas.

Museo Casa de la Memoria (Medellín) | courtesy of the Museum

2018-09-22 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #19

O Museu Casa da Memória (Medellín) e a memória como passado-presente | PT

No seu livro O Museu da Inocência, Orhan Pamuk imaginou um museu como se fosse uma casa. Um espaço íntimo onde a história pudesse ser vislumbrada através de retalhos e fragmentos do quotidiano. Um ponto mais destinado a percorrer as trajetórias biográficas, na sua diversidade e riqueza, em lugar de produzir e reproduzir o discurso épico da nação. Pode um museu ser uma casa?

Pássaros | 2017 | Joaquim Arena (cortesia do artista)

2018-09-15 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #18

Europa, periferia das ilhas crioulas | PT

Aimé Césaire, Franz Fanon e Édouard Glissant foram filósofos que refletiram profundamente sobre o mundo que nos constitui, a partir da condição colonial e da herança da escravatura que tanto marca a sua ilha natal, a Martinica, nas Antilhas Francesas.

in city | 2018 | Nú Barreto (cortesia do artista)

2018-09-08 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #17a

A festa do Avante: Apesar de não parecer os conflitos estão lá, nos três dias | PT

Realiza-se este fim de semana mais uma edição, a 41ª, da festa do Avante da responsabilidade do jornal oficial do Partido Comunista Português que reclama ser esta ?o maior acontecimento cultural do país?.

in city | 2018 | Nú Barreto (cortesia do artista)

2018-09-08 | Tironi, Ana

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #17b

O que pode um livro | PT

Há algum tempo chegou às minhas mãos um livro escrito por um casal de psicanalistas franceses que desde há trinta anos tem vindo a estudar, a partir de casos reais, a ligação existente entre o trauma, pessoal ou colectivo, e a loucura.

sem título | 2018 | Ana Vidigal (cortesia da artista)

2018-09-01 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #16

Memórias familiares e memórias públicas: campos de batalha | PT

A literatura - e a literatura portuguesa não é uma exceção - abre fendas profundas dentro de mundos insondáveis como o das memórias e das relações de família. Um dos arquivos mais complexos é constituído pela resistente e escorregadia memória familiar. É como um antídoto à perda total do passado. O que se guarda no espaço íntimo e privado são imagens efetivas ou simbólicas de vivências pessoais, de experiências agradáveis ou dolorosas.

s/t (da série C?est pas facile) | 2016 | Mauro Pinto (cortesia do artista)

2018-08-25 | Curado, Vasco Luís

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #15

Duas reminiscências da Guerra Colonial | PT

Artilharia. O homem contou-me como foi a sua guerra colonial. A meio do curso de Matemática, que ele fazia sem pressas, mobilizaram-no para a tropa, graduaram-no em oficial de artilharia, para fazer cálculos para os disparos de obus, e mandaram-no para um aquartelamento no mato do Norte de Angola. Era o oficial mais desleixado da guarnição: mal fardado, a boina sempre mal posta. Diziam dele que parecia que andava noutro mundo -  talvez o mundo abstracto da matemática, que lhe ocupava o espírito e o distraía das coisas terrenas e imediatas.

Casa Vermelha (da série Gurué) | 2014 | Filipe Branquinho (cortesia do artista)

2018-08-04 | Roque, Sílvia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #14

Amílcar Cabral: itinerários, memórias, descolonização | PT

Após Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena / A Outra Face do Homem, a Editora cabo-verdiana Rosa de Porcelana volta a lançar um livro baseado na correspondência familiar do líder do PAIGC, Itinerários de Amílcar Cabral (2018). Trata-se de uma recolha de postais enviados por Amílcar Cabral à companheira, Ana Maria, e aos filhos, Raul e Ndira, organizada pela própria Ana Maria Cabral, por Filinto Elísio e Márcia Souto e comentada pela historiadora Aurora Almada e Santos.

Intervalo (da série Gurué) | 2014 | Filipe Branquinho (cortesia do artista)

2018-07-28 | Curado, Vasco Luís

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #13

Declaração de guerra 2 | PT

Chamado para a tropa em 1969, a minha especialidade foi em Operações Especiais. Em Santa Margarida, preparei um grupo de combate. Eu e o meu grupo de 25 homens fomos para a Guiné. Fiz muita guerrilha e saídas para o mato. Éramos Rangers, bem preparados. Fazíamos segurança à volta dos aldeamentos novos, com casas de adobe onde eram instaladas populações guineenses, para estarem mais longe dos terroristas e mais perto de nós. Os políticos chamavam a isso reordenamento.

Arquivo Vivo, Teatro do Vestido | 2018 | foto de Nuno Simão Gonçalves (cortesia do fotógrafo)

2018-07-21 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #12

O Teatro de um Estado de Sítio | PT

As peças Retornos, exílios e alguns que ficaram e Filhos do Retorno do Teatro do Vestido, as obras mais recentes da companhia dirigida por Joana Craveiro, são uma oportunidade para reflectir sobre o teatro contemporâneo que em Portugal aborda as memórias da ditadura, da guerra colonial e os efeitos do ex-império português e para, simultaneamente, fazer uma comparação necessária com o teatro que se faz em alguns países da América Latina, que têm em comum o terem sofrido ditaduras militares entre os anos 60 e os anos 80 do século passado e uma colonização ideológica com acentuada orientação económica e repressiva a que não foi alheio o papel dos EUA em consequência da Guerra Fria.

da série Sporting Narratives | 2018 | Márcio Carvalho (cortesia do artista)

2018-07-14 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #11

"Descobertas" - colonialidades da memória | PT

Se o "Museu das Descobertas" sugerido pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, algum dia vier a existir - espera-se que com uma designação mais adequada - uma das suas salas, de preferência a sala de entrada, deveria ser destinada a documentar a controvérsia que tem ocupado as páginas dos jornais desde o anúncio do projeto, a partir do momento em que um grupo alargado de intelectuais e investigadores tomou posição pública contestando a orientação traduzida na designação proposta. O interesse pedagógico dessa documentação é inequívoco.

Árvore Azul (da série botânica) | 2016 | Filipe Branquinho (cortesia do artista)

2018-07-07 | Rodrigues, Fátima da Cruz

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #10

O Encontro Nacional dos Combatentes: talvez nesta cerimónia devêssemos apenas ouvir os clarins | PT

No dia da cerimónia de inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar, a 15 de janeiro de 1994, as primeiras palavras do discurso proferido por Adriano Moreira foram: "Sr. Presidente da República, Combatentes. Talvez nesta cerimónia cívica destinada a honrar os combatentes da guerra do ultramar português fosse apropriado fazer ouvir apenas os clarins num dos toques que misturam os sons da agonia com os sons da glória".

The Big Wave Rider | 2017 | Pedro A. H. Paixão (cortesia do artista)

2018-06-30 | Cammaert, Felipe

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #9

A Praça Lumumba em Bruxelas: um lugar de memória controverso | PT

Após vários anos de debates, a municipalidade de Bruxelas inaugurará a 30 de Junho de 2018 uma praça em homenagem a Patrice Lumumba, figura política da independência congolesa e efémero primeiro Primeiro-Ministro da República do Congo, em 1960. A data escolhida para a inauguração é significativa: nesse mesmo dia de 1960 foi proclamada a independência do Congo, pondo fim à dominação colonial belga que imperava desde os tempos da Conferência de Berlim (1884).

vai tudo correr bem | 2015 | Pedro Valdez Cardoso (cortesia do artista)

2018-06-23 | Curado, Vasco Luís

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #8a

Declaração de guerra 1 | PT

Em 1960, eu tinha 20 anos, chamaram-me para a tropa. Fiz o curso de sargentos milicianos e fui graduado como furriel no dia de embarque para Angola, em 5 de Maio de 1961. A sede da companhia era em Muxaluando.

vai tudo correr bem | 2015 | Pedro Valdez Cardoso (cortesia do artista)

2018-06-23 | Vilar, Fernanda

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #8b

État de lieux - França 2018, o debate sobre o passado colonial | PT

Estamos em meados de 2018. Emmanuel Macron é o Presidente de França. Há um ano declarou que a colonização foi um "crime contra a humanidade". A crítica de Macron contra a colonização foi feita no contexto de uma visita à Argélia, território dominado pelos franceses ao longo de 114 anos, de 1848 a 1962

sem título | 2018 | Ana Vidigal (cortesia da artista)

2018-06-16 | Santos, Hélia

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #7

Memórias do colonialismo português encenadas por Hotel Europa | PT

"Há uma forma de nos lembrarmos das coisas. Há uma forma de nos lembrarmos das coisas coletivamente?". Assim se inicia a trilogia sobre o final do império português em África, produzida pela Companhia Hotel Europa entre 2015 e 2017. Em Portugal não é um País Pequeno (2015), Passa-Porte e Libertação (2017) André Amálio explora documentação de arquivo, textual e audiovisual, em diálogo, por vezes contrastivo, com testemunhos que o autor recolheu de pessoas que viveram aquele período histórico.

the behaviour of being | 2017 | Pauliana Pimentel (cortesia da artista)

2018-06-09 | Cardina, Miguel

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #6

Vidas que ficaram do outro lado | PT

As guerras resistem a confinar-se aos limites históricos nos quais ocorreram. Sabemos como os seus estilhaços se repercutem continuadamente no tempo, produzindo mecanismos públicos e privados de ressignificação e silenciamento. Pela sua própria natureza disruptiva, a experiência da guerra pode transformar-se numa marca funda que perdura e que frequentemente toca aquelas e aqueles que, não tendo da guerra uma vivência direta, se encontram numa posição de proximidade pessoal, afetiva e/ou familiar com quem combateu, acabando por ser atingidos pelas ressonâncias desse (in)transmitido.

sem título | 2018 | Ana Vidigal (cortesia da artista)

2018-06-02 | Jerónimo, Miguel Bandeira

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #5

De que "legados" falamos nós? | PT

Num contexto de intensa disputa histórica, mas sobretudo memorial, em França, suscitada, em parte, pela publicação da Lei de 23 de Fevereiro de 2005, que postulava a necessária transmissão dos “valores positivos” do colonialismo francês aos estudantes, Jean-François Bayart e Bertrand Romain assinaram uma peça intitulada “De quel ‘legs colonial’ parle-t-on?”, publicada na renomada L’Esprit. De que “legado colonial” falamos nós?

Impérios | 2015 | Pedro Valdez Cardoso (cortesia do artista)

2018-05-26 | Martins, Bruno Sena

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #4a

A Guerra Colonial portuguesa e a imortalidade das feridas | PT

No conto "A Testemunha", Jorge Luis Borges sugere que, de uma certa perspectiva, a batalha de Junín chegou ao fim, desaparecendo para sempre, após a morte do último homem que nela combateu.

Impérios | 2015 | Pedro Valdez Cardoso (cortesia do artista)

2018-05-26 | Medeiros, Paulo de

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #4b

Memórias de Guerra e Guerra de Memórias | PT

Aproximadamente a meio da narrativa, o leitor do recente álbum de banda desenhada, Algériennes 1954-1962, assinado pela dupla Swann Meralli e Deloupy (Marabout, 2018), depara com uma frase insólita: "isto tornou-se numa guerra de memórias".

da série Quel pedra | 2017 | Pauliana Pimentel (cortesia da artista)

2018-05-19 | Ribeiro, António Pinto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #3

O impossível museu | PT

Os museus não são arquivos, tão pouco conjuntos de acervos reunidos. São sobretudo instrumentos de representação de poder segundo propósitos que são legitimados por uma determinada epistemologia e que, num contexto nacional, têm por objectivo produzir e difundir uma determinada memória de identificação nacional.

O Maior Espetáculo do Mundo | 2018 | Pedro Valdez Cardoso (cortesia do artista)

2018-05-12 | Vecchi, Roberto

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #2

Argentina e as suas cicatrizes familiares | PT

O tema de Memoirs é a transmissão familiar e intergeracional da memória também traumática, o que aliás, sintetiza, por defeito, o conceito de pós-memória. A família é o objeto opaco e indecifrável o que torna os estudos das memórias privadas um desafio problemático. De fato, como se pode perfurar o diafragma espesso que protege e encobre os passados subjetivos, privados, denegados, afundados como cárceres de grupos afetivos nas regiões mais escuras e profundas do perímetro familiar?

sem título | 2018 | Ana Vidigal (cortesia da artista)

2018-05-05 | Ribeiro, Margarida Calafate

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #1a

Na Europa andam fantasmas pós-coloniais à solta | PT

No dia nove de abril de 2018 comemoraram-se os 100 anos da Batalha de La Lys. Os presidentes das Repúblicas Portuguesa e Francesa e o Primeiro Ministro António Costa participaram nas comemorações e as televisões e os jornais referiram marcadamente o evento.

sem título | 2018 | Ana Vidigal (cortesia da artista)

2018-05-05 | Ribeiro, António Sousa

MEMOIRS/ MAPS NEWSLETTER #1b

Conflitos de memória: o "Bairro Africano" de Berlim | PT

A experiência colonial alemã foi, como é sabido, relativamente curta, tendo chegado a um fim definitivo com a derrota do Reich em 1918 - as muitas disposições punitivas do Tratado de Versalhes incluíam a obrigação de a Alemanha ceder o domínio sobre todos os territórios coloniais que detinha.