O livro é uma antologia de ensaios e textos literários em português, seguidos por novas traduções em italiano. A antologia visa fornecer ao leitor um novo quadro crítico e conceitual, e as fontes primárias e os contextos indispensáveis para "pensar" - e ler - a literatura portuguesa. O livro ensaia uma nova periodização dos materiais literários, a partir dos contributos que conduziram Portugal à abertura ao mundo de novos espaços - de uma forma problemática e através da relação colonial - que contribuiu para fundar. A história nacional é analisada em contraponto com uma teoria imperial tripla (Ásia, no século XVI, o Brasil, em particular, entre o final do século XVII e início do século XIX, África no final do século XIX e no século XX), determinando assim um perfil analítico. A cultura portuguesa desenvolve-se sempre entre o louvor do universalismo da nação-império e a debilidade histórica de uma pequena e marginal pátria europeia, o que condicionou, em grande medida ,as formas de auto-representação, a sua dimensão e os tempos das geografias coloniais. Entre o Atlântico e da Europa, Portugal constrói na sua literatura ao longo dos séculos, o grande arquivo onde regista a sua grandeza (muitas vezes imaginada) e as ruínas da sua história.
Roberto Vecchi
2010 | Porto: Afrontamento Pensar a literatura da guerra colonial é um modo, talvez oblíquo, de a reler, porque nela se insinuam, encobertos ou recalcados, rastos de um passado que ainda foge à fundação de uma memória compartilhada. A experiência incómoda da guerra colonial, de facto, proporciona material teórico e imagético relevante para uma possível genealogia da identificação de uma nação e de um império estilhaçados, suspensos entre a perda impreenchível de marcas de auto-reconhecimento e a vertigem de uma possível palingenesia total. Um corpus textual da literatura da guerra, seleccionado através de uma problematização de ordem canónica, é repensado a partir de alguns paradigmas críticos melancólico, testemunhal, residual, trágicomoderno, traumático, biopolítico, etc. - que procuram, na sua precariedade, localizar - mais do que preencher - faltas e perdas de conhecimento. Em jogo, o limiar trágico e esfarrapado de uma tensão ainda em curso entre o colonialismo e o que se seguiu, depois e além dele. A excepção que a guerra permite pensar em múltiplos sentidos, mas sobretudo a partir de uma desmontagem enquanto categoria da filosofia política, contribui para elaborar, através da própria reconfiguração paradigmática praticada no livro, uma crítica directa ao excepcionalismo atlântico da revisão luso-tropicalista do império que se desfez. O que sempre falta é pensar Portugal.
"A Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial reúne perto de 350 poemas escritos sobre a Guerra Colonial. A par de um conjunto de poetas consagrados que vivenciaram a Guerra Colonial ou se inspiraram no tema, a obra mostra um grande número de autores que tinham os seus poemas dispersos pela imprensa regional, revistas, publicações militares ou nas pouco divulgadas edições de autor. A antologia destaca ainda a existência de um número significativo de mulheres que escreveram sobre este assunto. "Para além dos macro-temas-imagens tradicionais da cartografia de uma poesia de guerra ocidental e que esta antologia também contempla - Partidas e Regressos, Quotidianos, Morte, Memória da Guerra, Pensar a Guerra, Cancioneiro - desenham-se dois tópicos mais específicos desta guerra: Contra a Guerra e o Dever da Guerra." A finalizar apenas dois poemas na secção Ainda que assinalam a permanência da guerra em nós. "Pontuando estas divisões, e dialogando profundamente com a dor comum que percorre todos os poemas, um outro "texto": as fotografias de Manuel Botelho extraídas do seu trabalho sobre a Guerra Colonial "Confidencial e Desclassificado", da série "Ração de Combate"."
Atlântico Periférico analisa o caso português a partir de um horizonte de resistência global contra-hegemónica oposta à globalização neoliberal. O ensaio demonstra que é possível pensar o mundo a partir de Portugal e da sua condição pioneira de universalismo precoce, o que tornou o país um dos primeiros atores europeus no contexto global. Desta experiência de Portugal no sistema-mundo, dos seus restos e rastos, surge um outro pensamento crítico que permite a possibilidade de imaginação de um mundo novo e diferente. Textos de: Boaventura de Sousa Santos, Maria Irene Ramalho, António Sousa Ribeiro, Margarida Calafate Ribeiro, Roberto Vecchi and Vincenzo Russo.
Margarida Calafate Ribeiro | Roberto Vecchi (org.)
2014 | Lisboa: Gradiva "Deste naufrágio de uma raça toda a gente se lembra, excepto os portugueses. Das epopeias que perduram neste país tão folclórico nem uma página o relembra. A História trágico-marítima é a dos portugueses devorados pelo mar e pelos autóctones. Este espantoso silêncio esconde a aventura colonial, a mais pura de toda a história. Tão pura que hesitamos chamá-la colonialista. E, no entanto, ela é certamente uma entre outras, a primeira e a última ainda de pé, sob a indiferença dos trópicos e o esquecimento do mundo. Este esquecimento faz-nos pensar, mas explica-se. Portugal não foi o único país a deixar-se esquecer desta maneira. No tempo das Grandes Descobertas a importância cósmica desta aventura escondia aos olhos da Europa o colonialismo nascente. Mais tarde, a mesma Europa teve também demasiado interesse em esconder, em conjunto, este colonialismo."
Desde as cantigas de amigo até ao século XXI, uma antologia que é uma nova leitura da história da literatura portuguesa. Um olhar estrangeiro ainda mais português.
É uma obra monumental A Literatura Portuguesa. Modos de ler de Roberto Vecchi e Vincenzo Russo. Uma obra que subentende um esforço enorme e exige uma leitura lenta, com muita atenção, devido à imagem que transmite da nossa literatura.
E de nós próprios. Tenho a certeza que esta obra não passará desapercebida e será estudada profundamente, como uma espécie de bíblia da nossa cultura, os olhares de outrem debruçados sobre nós e isso é naturalmente de importância capital em particular para nós portugueses.
Porque esta obra coloca assim em xeque ou mesmo até desmancha as nossas queixas, a nossa espécie de lamúria de que ninguém nos vê, convencidos que somos um caco da Europa, esquecido e disperso.
2020 - "A impossível memória de Araguaia: um patrimônio sem memorial?", in Rejane Pivetta de Oliveira e Paulo C. Thomaz (org.), Literatura e Ditadura, Porto Alegre: Zouk, pp.45-58.
2020 - "A nostalgia colonial no País da saudade: fantasmagorias e pós-memória", Confluenze, Rivista di Studi Iberoamericani , V. 12, N. 2, p. 169-181.
2020 - "A arte do pensamento de Eduardo Lourenço: a saudade e a transformação do mundo'", IBEROGRAFIAS, Revista de Estudos Ibéricos, N. 16, n. 2, p. 375?384.
2019 - "Uma política da filosofia no pensamento africano: Amílcar Cabral e a metafísica da resistência", in Margarida Calafate Ribeiro e Phillip Rothwell (org.) Heranças Pós-Coloniais nas literaturas em língua portuguesa, Porto: Afrontamento, pp. 263-272.
2019 - "Genius loci e a imprescritibilidade do mito: arquiteturas simbólicas em tramas urbanas pós-coloniais (Luanda e Maputo)", in Margarida Calafate Ribeiro e Francisco Noa (org.), Memória, Cidade e Literatura: De São Paulo de Assunção de Loanda a Luuanda, de Lourenço Marques a Maputo, Porto: Afrontamento, pp. 201-211.
2019 - "Um pensamento meridiano: o Atlântico Sul e as articulações teóricas luso-brasileiras", in Ida Alves e Gilda Santos (org.), Relações luso-brasileiras - imagens e imaginários, Rio de Janeiro: Editora Oficina Raquel, 75-88.
2016 - "Subalternidades no(s) Atlântico(s) Sul", in António Sousa Ribeiro e Margarida Calafate Ribeiro (org.), Geometrias da memória: configurações pós-coloniais, Porto: Afrontamento
2016 - "Os fins do tempo do fim: descolonização, negação, pertença", Altre modernità/ Otras modernidades/ Autres modernités/ Other Modernities
2015 - "L'être singulier pluriel du post-colonialisme portugais", Les Langues Néo-Latines, 108e année-2-n.º 369, Avril-Juin 2014 : 17-29.